A Verdade Sobre O Caso Harry Quebert | Resenha

by - janeiro 19, 2019


Foto: Gabriel Ferrari
Olá, pessoas, tudo bem com vocês?

Frustração. Esse é o sentimento que tive ao ler A Verdade Sobre O Caso Harry Quebert, do escritor Joel Dicker. Eu sei que não é uma maneira muito positiva de começarmos uma resenha, e também não quero que pensem que o livro é um desastre completo. Há pontos bem favoráveis e que serão citadas ao longo da resenha, mas digo que fiquei frustrado pois mergulhei na leitura repleto de expectativas com relação a história, já que muitos dos meus amigos simplesmente amam a história e sempre me recomendavam e eu ficava me perguntando o motivo de ainda não ter tido a oportunidade de ler esse que é um dos trhillers policiais mais elogiados e conhecidos dos últimos anos. Não me entendam mal, é uma leitura com muitas coisas positivas, mas existem alguns pontos bem problemáticos que merecem ser destacados na obra escrita por Dicker no ano de 2012. Lembrando que tudo que irei dizer nessa resenha nada mais é que um conjunto das minhas impressões com relação a história e podem ou não condizer com a sua opinião a respeito da obra.  Caso o livro esteja na sua meta para 2019, não desanime, leia mesmo assim para ser capaz de formar a sua própria opinião a respeito e depois conta aqui pra mim nos comentários o que achou e se você concorda com o que vou dizer. Vamos lá?

A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert - Joel Dicker 

Título Original: La verité sur l'affaire Harry Quebert 
Autor(a): Joel Dicker 
Editora: Intrínseca
Publicação Original: 2012
Gênero: Thriller Policial, Suspense
Número de Páginas: 565
ISBN: 9788580575118
Sinopse: Marcus Goldman viu sua vida se transformar radicalmente. Com apenas vinte e oito anos, publicou um livro que se tornou um best-seller e o alçou ao status de celebridade, com direito a um apartamento chique em Manhattan, um carrão, uma namorada estrela de TV e presenças constantes nos tapetes vermelhos, além de um contrato milionário para um novo romance. E então foi acometido pela doença dos escritores: a síndrome da página em branco. A poucos meses do prazo para a entrega do novo original, pressionado por seu editor e por seu agente, Marcus não consegue escrever nem uma linha sequer. Na tentativa de superar seu bloqueio criativo, Marcus recorre a seu amigo e ex-professor Harry Quebert, um dos escritores mais respeitados dos Estados Unidos, que vive numa bela casa à beira-mar na pequenina cidade de Aurora, em New Hampshire. Às voltas com sua dificuldade em escrever, Marcus é surpreendido pela descoberta do corpo de uma jovem de quinze anos, Nola Kellergan — que desaparecera sem deixar rastros em 1975 —, enterrado no jardim de Harry, junto com o original do romance que o consagrou. Harry admite ter tido um caso com a garota e ter escrito o livro para ela, mas alega inocência no caso do assassinato. Com a mídia inteira contra Harry, Marcus se lança numa investigação particular, seguindo uma trilha de pistas através dos livros de seu mentor, dos bosques, das praias e das áreas isoladas de New Hampshire em busca da história secreta dos cidadãos de Aurora e do homem que mais admira. Uma teia de segredos emerge, mas a verdade só virá à tona depois de uma longa e complexa jornada. Para salvar Harry, sua carreira literária e a própria pele, Marcus precisa responder a três perguntas, todas misteriosamente conectadas: quem matou Nola Kellergan? O que aconteceu no verão de 1975? E como escrever um romance verdadeiramente bem-sucedido?


- Eu gostaria de lhe ensinar a escrever, Marcus, não para que você saiba escrever, mas para que se torne um escritor. Porque escrever livros não é nada: todo mundo sabe escrever, mas nem todo mundo é escritor.
- E como vou saber que sou um escritor, Harry?
- Ninguém sabe que é escritor. São os outros que nos dizem isso.


Como a sinopse acima nos mostra, em A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert nos leva por uma narrativa quase jornalística sobre as investigações do desaparecimento da jovem Nola Kellergan, na cidade de Aurora no verão de 1975, após o corpo da jovem ter sido descoberto enterrado no quintal do célebre escritor Harry Quebert. A história começa a ser narrada a partir da visão do jovem autor Marcus Goldman, que se encontra em um terrível episódio de bloqueio criativo e sofre muita pressão para repetir o sucesso de seu livro anterior. Na tentativa de furar esse bloqueio, Marcus se refugia na casa de seu antigo mentor Harry quando o corpo da jovem é descoberto e Quebert é preso, em 2008. Marcus é convicto da inocência de seu mestre e amigo e ele resolve provar para a cidade inteira realizando uma investigação particular para descobrir o que de fato aconteceu em 1975 e escrever um livro contando sobre tudo que aconteceu.

Joel, na minha opinião, é um dos melhores escritores da atualidade e olha que li apenas um livro seu; resolvi começar por Harry Quebert justamente por tantos comentários positivos com relação a história. Analisando o livro como um todo, a narrativa é morna do início ao fim e um pouco confusa, mas preciso destacar a precisão com que Joel escreve: Apesar de ser um grande calhamaço com suas quase 600 páginas, a escrita do autor é objetiva e extremamente fluída, praticamente jornalística em que Joel se atenta muito as datas e lugares, com boas descrições e uma excelente ambientação. É um livro impecável com relação a sua construção e é uma obra que ganha o leitor a partir de seus detalhes. É necessário ter um pouco de cuidado e ter atenção ao ler A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert, pois o romance é construído a partir de flashbacks de 1975 e as investigações, que acontecem em 2008 e por isso é necessário prestar atenção na data em que o capítulo está sendo narrado, pois pode confundir um pouco o leitor. O ponto negativo que gostaria de destacar com relação a escrita foi a construção de alguns diálogos extremamente machistas e preconceituosos de alguns personagens, principalmente do advogado contratado para cuidar do caso de Harry e da mãe de Marcus que, na minha opinião, nem precisava ter existido no livro. Não sei se é um traço da escrita de Joel ou se fazem parte apenas da construção de personagens específicos, mas eu cheguei a pular algumas frases ditas por eles por serem simplesmente detestáveis.

- Harry, de todos os seus ensinamentos, se tivesse que escolher apenas um, qual seria?
- Devolvo a pergunta.
- Para mim, seria a importância de saber cair.
- Concordo plenamente. A vida é uma longa queda, Marcus, O mais importante é saber cair.
A construção do livro é algo muito curioso e gostaria de destacar aqui para vocês: O livro é todo "montado" de trás para frente e os capítulos são organizados de maneira decrescente, ou seja, do último até o primeiro. Achei uma boa jogada do autor, uma vez que o livro narra também todo o processo de escrita de um autor na construção de seu livro e cada capítulo se inicia com uma dica dada por Harry à Marcus, como se fosse um "manual de escrita". Nesse ponto, senti que Joel bebeu um pouquinho da fonte do mestre Stephen King e seu icônico Misery, trazendo esse universo do processo de criação literária e bloqueio criativo para a história. Assim como King, Joel soube retratar muito bem o bicho papão dos escritores e confesso que ficava ansioso para começar um novo capítulo para saber a próxima dica. Uma coisa que me incomodou no livro é que os capítulos são imensos, cerca de 40 a 50 páginas, com algumas quebras de narrativa. Eu, particularmente, prefiro capítulos menores, torna a leitura mais dinâmica, uma vez que eu odeio interromper a leitura no meio de um capítulo já iniciado, mas isso é apenas um toc meu e talvez você não se incomode, mas eu simplesmente odeio iniciar um capítulo e largar o livro sem finalizá-lo. Ainda falando sobre referências ou homenagens a obras conhecidas, também senti um ar de Lolita de Vladimir Nabokov na parte em que trata do relacionamento proibido entre Harry, com 34 anos e Nola, com 15. Em alguns momentos achei a romantização do casal bem exagerada e fiquei incomodado de ler. Não sei se de fato Joel se inspirou em duas obras muito conhecidas e tentou homenageá-las de alguma forma, ou simplesmente seja piração da minha cabeça, algo totalmente plausível. 


- Está tentando me fazer falar de amor, Marcus, mas o amor é algo complicado, muito complicado. É ao mesmo tempo a coisa mais extraordinária e a pior coisa que pode acontecer. Você descobrirá isso um dia. O amor pode machucar muito. Mas nem por isso deve ter medo de cair, muito menos de cair de amores, pois o amor, embora muito bonito, é igual a todas as outras coisas bonitas, nos deixa deslumbrados e ofusca nossos olhos. É por isso que costumamos chorar quando chega ao fim.

Além de abordar o relacionamento entre Harry e Nola, o processo de criação do livro de Marcus e as investigações sobre o fatídico 30 de agosto de 1975, Joel foi muito ambicioso em abordar outros temas secundários, como o lado negro do mercado editorial e corrupção no mundo policial. Tais temas interrompem a narrativa e servem como um balde de água fria, esfriando o clima de suspense investigativo do livro. Acho interessante que haja outros pontos de vistas e assuntos na narrativa ainda mais em uma obra com quase 600 páginas, é importante a inserção de outros temas para que não fique monótono, porém, o excesso de capítulos que falam sobre esses temas secundários cortam por completo a experiência investigativa do livro. O excesso de plot twists também me incomodou demais: A narrativa do livro vem se desenvolvendo sem muitas surpresas e nada de muito avassalador, porém, nas páginas finais, Joel parece que quer, de uma maneira ou de outra, surpreender o leitor e acaba criando uma sucessão de reviravoltas questionáveis e sem muita coesão com a história criada até então. São tantas viradas de mesa que são inseridas nas últimas 50 páginas que quando de fato o mistério é esclarecido, o leitor já está de saco cheio de ser "enganado" e acaba tirando por completo o brilho do final.


Foto: Letter Of Winter


A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert foi um livro que prometeu demais, mas infelizmente para mim não funcionou. Contudo, recomendo para as pessoas por sua excelente escrita. Para os escritores (e projetos de escritores, como eu), o livro tem ótimas lições e mostra como um livro deve ser construído. Infelizmente como thriller deixa a desejar e me decepcionei um pouco com o autor, mas pretendo realizar outras leituras para ver se ele consegue me surpreender. Colocando em uma escala, o livro passa despercebido e certamente não irá constar na lista das minhas melhores leituras de 2019, porém, vale pelos ensinamentos e pela diversão.


Nota: 3,0 / 5,0 



E você? O que acha do livro? Não esquece de contar aqui pra mim nos comentários, eu tô de olho. Tenham todos um bom final de semana e nos vemos no próximo sábado!




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4 comentaram

  1. Olá!!

    Eu li esse livro por indicação e fui com muita sede ao pote, pois a pessoa falou que varou a noite lendo de tão bom. Mas, apesar da escrita do autor ser boa, não funcionou para mim. Foi uma leitura um tanto arrastada e nem metade do que eu esperava. Uma pena.

    bjs
    Fe

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  2. Ei, Fernanda! Tudo bem?
    Eu realmente não entendo motivo de tanto alarde com relação a esse livro. Apesar dos bons momentos, não funconou como um Thriller policial. Espero que outras leituras sejam melhores.

    Grande beijo e boa semana!

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  3. Pelo que entendi, o autor fez algo que eu não curto de jeito nenhum: passa 550 páginas enrolando e nas últimas 50 páginas vira o ligeirinho (Deu a louca na Chapeuzinho) depois que bebeu café. Beijos.

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  4. Gostei bastante da sua resenha bem sincera! Gosto de livros que abordam esse tema da escrita, você citou que lembrava Misery do King nesse ponto e realmente King tem muito disso (quase todos os livros dele que li até agora tem um escritor, com bloqueio ou não rsr), mas ainda não li Misery. Acho que o livro tinha tudo mesmo pra ser ótimo, uma pena que se desviou tanto do thriller e teve plot twists forçados... Também não curto muito quando isso acontece. Me sinto só "enganada" (não de verdade, porque a gente sente a forçação de barra) e pego ranço do livro. xD Mas enfim, é isso aí, rs.

    Beijos,
    Isa
    taglibraryisa.blogspot.com

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