A Vida Mentirosa dos Adultos | Resenha

by - agosto 11, 2020



"O que se passava, afinal, no mundo dos adultos, na cabeça de pessoas extremamente racionais, em seus corpos carregados de saber? O que os reduzia a animais dentre os menos confiáveis, piores que os répteis?"

Ei! Tudo bem?
Espero que sim :)

Depois de duas grandes postagens sobre A Vida Mentirosa dos Adultos eu, finalmente, trago à vocês, queridos leitores, a resenha de uma das melhores obras já escrita por Elena Ferrante. 

A Vida Mentirosa dos Adultos - Elena Ferrante 
Sinopse: As mudanças no rosto de Giovanna anunciam o início da adolescência e não passam despercebidas em casa. Dois anos antes de abandonar a família e o confortável apartamento no centro de Nápoles, Andrea não se dá conta do que sentencia quando sussurra para a esposa que a filha é muito feia. Essa feiura estética, mas que também indica uma possível falha de caráter, recai sobre Giovanna como uma herança indesejável de Vittoria, a irmã há muito renegada por Andrea. Aos doze anos, a menina vê um rosto no espelho e, embora não compreenda a fundo o peso daquela comparação, sente que algo está irremediavelmente à beira de um abismo. O amor e a proteção oferecidos pelo lar são as primeiras estruturas a desmoronar quando Giovanna decide conhecer a mulher que pode encarnar seu futuro. Os encontros com a tia são o ponto de partida para o embate com inúmeras questões existenciais ― é possível pertencer a algum lugar em uma Nápoles de contrastes entre o cinza industrial e sua sociedade rica e instruída? Ou transcender os erros e pecados cada vez mais aparentes de pais outrora perfeitos? Como sobreviver ao despertar do desejo? Ao longo dos anos acompanhamos os percalços da transição da infância protegida de Giovanna a uma adolescência exposta às complexidades daqueles que a cercam, evocando também a possibilidade de levar a vida adulta como nenhuma outra mulher fizera até então. Um romance extraordinário sobre transições, paixões e descobertas.

Foi assim, Giovanna aos seus 12 anos descobriu que o pai, aquele que sempre a amou e a elogiou, disse que sua filha estava se tornando Vittoria. No mesmo momento o mundo perfeito de Giovanna foi destruído, ser comparada a tia que sempre fora descrita como feia, má e cruel, fez com que tudo mudasse. Fez com que a menina precisasse viajar até o outro lado de Nápoles, o lado que ela conhecia como ruim, ela precisava conhecer tia Vittoria, ela precisava saber quem ela estava se tornando. 

Claro que eu poderia falar muito mais sobre a trama, mas é exatamente essa descoberta de Giovanna que dá o gás para o livro inteiro, é se perceber e compreender sua mudança de menina para mulher, por consequência, desmascarar a vida que levava. 

Desta maneira, Ferrante nos conduz a uma história crua sobre realizações e descobertas. Nos leva para um lugar que muitos já conheceram e muitos ainda vão conhecer. Consegue, com maestria, invocar no leitor a empatia pela personagem principal, que passa por diversas transformações ao longo das 432 páginas.

Com sua escrita ansiosa e nervosa, a autora consegue mostrar o melhor cenário possível: sim, novamente temos Nápoles. Acredito que, a importância do local nas obras é tão grande que ele acaba se tornando uma personagem do livro também. E não há melhor personagem que Nápoles. 

A cidade de Nápoles é... Faltam-me palavras para expressar o quão complexo essa personagem é. Historicamente importante para a Unificação da Itália e também local de maior desavenças politicas a sociais. Nápoles é literalmente dividida no lado bom e no lado ruim, o lado rico e o lado pobre, e sim, eles não se misturam. 

Em A Vida Mentirosa dos Adultos, Giovanna não descobre apenas as mentiras contadas sobre sua família, mas as mentiras contadas sobre Nápoles, local de sua vida, mas que não reconhece da mesma forma. 

Uma história sobre crescimento, criação, descobertas, o íntimo de Nápoles e da cultura dialetal napolitana. Uma história sobre o ser italiano, sobre se reconhecer como humano e mulher. Elena Ferrante é sobre consequências socioeconômicas, as reviravoltas são verdadeiras, não grandiosas, mas que levam o leitor a se compreenderem como ser no coletivo. 

Genial e brilhante, a grande autora italiana continua nos revirando e nos revivendo. 

Um abraço enorme (à distância) e um beijo!

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