Ei! Tudo bem?
Espero que sim :)
'Prometo que juro' que não vou inventar desculpas sobre o meu desaparecimento no blog e nas redes sociais, não vou falar nem sobre isso agora. Hoje é dia da CecÃlia tomar vergonha na cara e resenhar um livro que fala sobre a Segunda Guerra Mundial de uma maneira completamente inovadora. Vocês já viram um romance histórico que é ao mesmo tempo uma ficção cientÃfica? Pois é!
Autor(a): Kurt Vonnegut
Editora: IntrÃnseca
Gênero: Ficção cientÃfica
Páginas: 288
Sinopse: O humor e estilo únicos e originais de Kurt Vonnegut o fizeram um dos escritores mais importantes da literatura norte-americana. Sarcástico, ele foi capaz de escrever sobre a brutal destruição da cidade de Dresden, na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial — sem apelar para descrições sensacionalistas. Em vez disso, criou uma história imaginativa, muitas vezes engraçada e quase psicodélica, estrategicamente situada entre uma introdução e um epÃlogo autobiográficos. Assim como Billy Pilgrim, o protagonista de Matadouro-Cinco, Vonnegut testemunhou como prisioneiro de guerra, em 1945, a morte de milhares de civis, a maior parte deles por queimaduras e asfixia, no bombardeio que destruiu a cidade alemã. Billy tinha sido capturado e destacado para fazer suplementos vitamÃnicos em um depósito de carnes subterrneo, onde os prisioneiros se refugiaram do ataque dos Aliados. Salvo pelo trabalho, depois de ter visto toda sorte de mortes e crueldades arbitrárias e absurdas, Billy volta à vida de consumo norte-americana e relata sua pacata biografia, intercalando sua trajetória aparentemente comum com episódios fantásticos de viagens no tempo e no espaço. Ao capturar o espÃrito de seu tempo e a imaginação de uma geração — afinal, o livro foi publicado originalmente em 1969, em plena guerra do Vietnã e de intensos protestos e movimentos culturais —, o livro logo virou um fenômeno e sua história e estrutura inovadoras se tornaram metáforas para uma nova era que se aproximava. Ao combinar uma escrita cotidiana, ficção cientÃfica, piadas e filosofia, o autor também falou das banalidades da cultura do consumismo, da maldade humana e da nossa capacidade de nos acostumarmos com tudo. Qualquer semelhança com a atualidade não é mera coincidência.
Antes de iniciar o resumo da obra em si, preciso dizer algumas coisas sobre o autor Kurt Vonnegut. Ele propõe para si mesmo a criação de um livro sobre a Segunda Guerra Mundial, porque Vonnegut viveu a Segunda Guerra, foi soldado e estava presente no bombardeio de Dresden, uma cidade alemã. Entre os dias 13 e 14 de fevereiro de 1945, Dresden sofreu um ataque pelas forças aliadas que destruiu 39 quilômetros da cidade, estima-se que 130 mil pessoas morreram. Nesse perÃodo Kurt Vonnegut era prisioneiro dos nazistas e, inacreditavelmente, sobreviveu ao ataque aéreo. Mesmo sendo autor de ficção cientÃfica, Vonnegut embarca na criação de um romance histórico.
E é sobre isso o primeiro capÃtulo do seu livro intitulado Matadouro-Cinco. Com pensamentos confusos e com vários cortes (propositais) entre as páginas, Vonnegut dá seu relato para a criação da sua obra e justifica o motivo do subtÃtulo ser A Cruzada das Crianças. Promete também que esse não será um livro que fará com que as pessoas apreciem a guerra, o que foi crucial para o ano de sua publicação, 1969, em que ocorria a Guerra do Vietnã.
Assim, é no segundo capÃtulo de Matadouro-Cinco que Vonnegut nos apresenta o protagonista Billy Pilgrim, ex-soldado de guerra que surpreendentemente sobreviveu a séries de infelizes eventos da Segunda Guerra, dentre eles o bombardeio de Dresden. Ao voltar para casa, Billy tem a sua vida normal, se torna optometrista e se casa. Porém, o que chama a atenção do leitor para a vida pós-guerra de Billy é que ele se diz solto no tempo desde um episódio da guerra, além disso, Pilgrim afirma que na noite do casamento de sua filha ele foi abduzido por extraterrestres e foi colocado em um zoológico pelos habitantes de Tralfamador.
É dessa maneira que o livro pega o leitor e o conduz ao imaginário de experiências vividas por Billy Pilgrim em diversos momentos de sua vida.
"- Bem vindo a bordo, senhor Pilgrim - anunciou o alto-falante. - Alguma pergunta?
- Por que eu?
- É uma pergunta bem terráquea, senhor Pilgrim. Por que você? Por que nós, a propósito? Por que qualquer coisa? Porque esse momento simplesmente é."
Como especial aos 50 anos de publicação de Matadouro-Cinco, a Editora IntrÃnseca fez essa edição que está muito especial para os fãs do autor. Como parceiros da editora, o livro chegou a minha casa no mês do lançamento e eu o ignorei por bastante tempo, inclusive, mesmo começando a leitura preferi adiar. Isso porque Matadouro-Cinco é uma das obras mais confusas e conflitantes que eu já li. Peguei o livro esperando uma experiência histórica e no final também ganhei uma ficção cientÃfica.
Demorei muito mais do que pretendia para finalizar a leitura, mas quando isso aconteceu eu achei que a minha cabeça fosse explodir, o que é 100% culpa do autor. Vonnegut cria uma história em que sua intenção é fazer com que o leitor consiga entrar na cabeça de Billy, que consiga sentir um pouco de seus pensamentos, então o livro se torna uma grande aventura psicodélica ao mundo de um personagem apático e perdido em si mesmo.
Os eventos da vida de Billy não são narrados em ordem cronológica, até porque Pilgrim está solto no tempo, o que significa que enquanto ele vive o presente da guerra ele pode voltar ao seu nascimento e ver ao mesmo tempo a sua morte.
"Entre as coisas que Billy Pilgrim não podia mudar estavam o passado, o presente e o futuro."
Sou uma devoradora de romances históricos e posso dizer que como experiência pessoal esse foi o que mais inovou e cumpriu exatamente com o que prometeu desde o inÃcio das páginas: esse é um livro sobre guerra, você não vai a querer quando souber como realmente é.
Talvez seja a vivência do autor com o assunto ou o tanto que ele se aproxima de seu protagonista, mas o fato indiscutÃvel é que, mesmo por entrarmos na cabeça de um personagem questionável em sua sanidade, Vonnegut transmite verdade.
Matadouro-Cinco não idealiza a guerra, não cria um lado bom ou um lado ruim, não cria heróis e a última coisa que você vai ver dentro desse livro é uma romantização dos soldados. O que é simplesmente sensacional.
As personagens são, na verdade, representações reais. Ignorando um pouco o protagonista, temos algumas aparições durante a obra de soldados e criaturas extraterrestres, alguns representam o ideal de patriotismo imposto pelos paÃses que estavam na guerra, outros o medo, os sacrifÃcios e a dureza que se resume na frase mais repetida do livro: "é assim mesmo". Estes personagens são colocados como mais alguns que foram levados pela guerra, não tem como criar empatia por eles sendo tudo tão passageiro.
Voltando para Billy e suas experiências que são relatadas em Matadouro-Cinco. Ele é o protagonista mais apático das histórias que eu já li, ele só é, porque simplesmente é. O interessante e o que faz com que o leitor queira terminar a história é o que o autor faz com seu personagem e as grandes metáforas presentes nas viagens do tempo de Billy, na sua abdução, nos eventos que viveu da guerra. Vonnegut trabalha tudo de forma cruel, deixa até de lado a parte de ficção cientÃfica e se concentra mais nos sentimentos e emoções de Billy, as personagens de Tralfamador são um ponto a mais, apenas uma escada para a grande ideia que Vonnegut tem com seu livro: mostrar os traumas de Billy no pós-guerra.
"Seguiam em fila indiana. Primeiro iam os soldados: espertos, elegantes, silenciosos. Carregavam rifles. Em seguida, ia o artilheiro antitanque: desajeitado e lento, espantando alemães com uma Colt.45 automática numa das mãos e um faca de trincheira na outra. Por último ia Billy Pilgrim, de mãos vazias, tristemente pronto para morrer."
Não acredito que seja um livro para todos os leitores, não porque é uma leitura difÃcil, o livro não é nenhum pouco complexo, mas é uma obra confusa até sua metade. Estar dentro do imaginário de Billy é um pouco assustador e provavelmente foi por isso que eu demorei tanto a pegar o ritmo da leitura até as 100 primeiras páginas. Isso não é um problema na história se você está disposto a embarcar nessa leitura. O final vale a pena e tudo o que eu posso dizer é que se você começou e se sentiu extremamente curioso, por favor, termine, Vonnegut consegue surpreender o leitor até a última página de Matadouro-Cinco.
"Billy chorava muito pouco, embora visse muitas coisas merecedoras de lágrimas."
Nota: 5/5 ♥
*Livro cedido em parceria com a Editora*
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Um beijo e paz no coraçãozinho de vocês! ✩