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365 Cores do Universo

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Ei!
Tudo bem? Espero que sim.

Deus sabe do trauma que tomei de livros de Booktubers. Adoro canais literários e acredito que seja uma ótima maneira de disseminar a magia dos livros, no entanto, o que tem de livro ruim lançado por eles não é brincadeira não! Eu jurei que não leria mais nenhum livro de Booktubers, no entanto, sempre me simpatizei pela escrita de Daniel e gostava dos mini textos que lia pelo Twitter ou Instagram e também pelo conteúdo do seu canal que resolvi dar uma chance para seu livro de contos chamado de Depois do Fim, seu segundo livro. Daniel também escreveu "Por Onde Andam As Pessoas Interessantes" e "O que eu tô fazendo da minha vida".

Será que valeu a pena? É o que confere agora.


Título: Depois do Fim
Autor: Daniel Bovolento
Editor: Outro Planeta
Gênero: Romance, Drama, Contos
Número de Páginas: 224
Sinopse: Como fica a minha vida depois de você? Como é que a gente faz para esquecer alguém? Os primeiros vestígios do fim, as despedidas, deixar alguém, ser deixado, o recomeço, a necessidade de se acostumar a viver sozinho de novo, os flashbacks, as ligações de madrugada, a falta que persiste, os novos encontros, os velhos encontros, a gente encontrando a gente, um mundo novo surgindo, a luz no fim do túnel. Em Depois do fim, Daniel Bovolento conta a trajetória de todo mundo que terminou alguma coisa e tem que aprender a lidar com as diferentes dores e superações de quem perdeu um amor. São 50 textos em que se misturam crônicas e desabafos sobre recomeço, aprendizado e a esperança de um novo final feliz. 'Cada um de nós encontra uma maneira diferente de encarar o fim. Cada um de nós passa por fins diferentes, por mais que tenhamos tido histórias parecidas.

Quem nunca precisou lidar com a dor da perda, não é mesmo? Sobre as frustrações deixadas após o término de um relacionamento, o gosto amargo na boca e o aperto no coração. Como seguir em frente após um término? Como se redescobrir e reencontrar a felicidade? Como seguir sozinho após dividir sua vida com outro alguém? São os principais temas que Daniel aborda ao longo dos 50 contos que fazem parte de seu livro.

 Quando você achava que nunca aconteceria nada disso com você, quando o fim era uma perspectiva tão imprevisível quanto o início, você acaba tendo uma única certeza: ele ainda está dentro de você. E seu maior problema agora, mais do que qualquer outro, é descobrir como tirá-lo daí.  

Num primeiro momento, achei a proposta do livro bem interessante, uma vez que achava que seria uma história focada em um único casal. O fato do autor ter escolhido trazer 50 textos traz uma pluralidade muita grande pra obra, além de dar espaço para Daniel explorar melhor e com mais calma os temas, uma vez que a cada texto, uma vertente em específica é abordada, mas todas voltadas para a dor e o amor dos relacionamentos e suas inúmeras etapas. Graças a Daniel, eu agora consigo olhar livros publicados por booktubers de outra forma. Foi a minha primeira experiência com o autor, mas é um livro muito bem escrito e produzido e com certeza irei buscar seus outros títulos para ler. Ele possui um tom poético em sua escrita e as frases se conectam e jogam diversas verdades na sua cara enquanto somos apresentados a contos sobre o primeiro amor, a primeira briga, os términos. A falta de amor. A hora de ir embora e recomeçar. E se apaixonar novamente. A vida é um ciclo em que é muito bem representada em Depois do Fim.

 Amor não foi feito para ser prisão e, olha, o mundo é gigante. 

O grande destaque da obra é a maneira singela e simples que o autor conseguiu falar de temas tão complicados e delicados de serem digeridos. A escrita é muito eficiente e você se sente quase fazendo terapia ou chorando as mágoas com aquele amigo que você corre sempre que seu coração está quebrado. Amor, amizade, sexo, paixão. Um relacionamento é questão de identidade e se reconhecer em uma outra pessoa e, mesmo assim, manter a sua própria singularidade. Há sempre muitas dúvidas, incertezas e medo. É uma etapa difícil, ninguém gosta de colocar um ponto final em algo que jurou ser eterno, no entanto, faz parte e serve muito para o nosso crescimento pessoal. Nesses quesitos, o livro é impecável, trazendo a verdade dura e crua de uma maneira muito delicada.

Tempo é relativo. Para você pode ter sido um ano, para mim pode ser uma vida. A gente nunca sabe quanto tempo o outro vai morar na gente depois da despedida. 

O livro é uma coletânea de contos que representam da maneira mais sincera e transparente possível o que é se relacionar com alguém. Você se identifica com os protagonistas dos contos, se reconhece em meio a promessas feitas e a todo esforço por querer que aquela relação dê certo, porém, algumas coisas possuem um fim e você precisa a aprender a seguir em frente. A obra é uma poderosa mensagem de aceitação e amor próprio. É sobre saber a hora de ficar, mas também reconhecer a hora de partir. Mesmo que você esteja em uma etapa de vida diferente das que são abordadas ao longo dos contos, é impossível não se identificar com cada dor, cada palavra, cada emoção ensaiada pelos protagonistas que entram e saem de cena como uma peça de teatro, o filme da vida. É uma leitura tão especial que eu grifei inúmeras passagens e frases que conversaram diretamente comigo. Representam vivências e experiências do autor, mas que certamente servem para trazer reflexões particulares.  Eu separei algumas pra colocar aqui na resenha pra vocês, mais saibam que foi extremamente difícil! 

Se a gente não precisa esquecer um amor quando acaba significa que ele já tinha sido esquecido faz tempo. E qual é o sentido de se amar sem memória?

Depois do Fim possui ótimas histórias e que são altamente impactantes e reflexivas, no entanto, recomendo que você o leia intercalando-o com outras leituras. Por ser um livro de contos e, principalmente, por trazer a conturbada temática de uma vida a dois, os contos podem soar um tanto quanto monótonos e repetitivos, ainda que sejam muito bem escritos. Leia um ou dois contos por vez que acredito que o livro irá fluir muito melhor. Depois Do Fim é um livro que precisa ser degustado lentamente para sentir o peso de cada página.



Para finalizarmos, irei deixar aqui pra vocês a lista de músicas presente no livro. Para quem não sabe, para cada conto, há um título e uma música que representa a história que será contada. A experiência do livro se torna ainda mais imersiva quando você faz a leitura ouvindo a canção indicada. São ótimas músicas, vale muito a pena. Ah, e para quem não sabe, o livro é um dos inúmeros títulos presentes no Kindle Unlimited. Caso seja assinante, por que não dar uma chance para Depois do Fim? 

Nota: 4,0 /5,0 

Nos vemos qualquer dia desses por aqui ou no Startes. Grande beijo! 




Não sou mais eu, mas quem eu era também não é mais seu. A gente sempre deixa de ser, né? Depois de cruzar a soleira da porta, não tem mais volta. Uma vez que esbarramos em alguém e decidimos ir embora, tudo muda.



Lista de músicas presentes em Depois do Fim:
How Long Will I Love You - Ellie Goulding
Same Old Love - Selena Gomez
Say Something - A Great Big World ft. Christina Aguilera
Missing You - Betty Who
Big Girls Don't Cry - Fergie
Caso Você Queira Saber - Cássia Eller
Cena - Mallu Magalhães
I Am Mine - Beta Radio
Drops Of Jupiter - Train
Who Knew - P!nk
The Lightning Strike - Snow Patrol
De Passagem - Cícero
Dreaming With A Broken Heart - John Mayer
Eu Nunca Disse Adeus - Capital Inicial
Cannoball - Damien Rice
A Idade do Céu - Paulinho Moska
Amor Marginal - Johnny Hooker
Sun Tomorrow - Ira Wolf
Blame It on Me - George Ezra
She Used To Be Mine - Sara Bareilles
Rabbit - Matt Duke
As Canções que Você Fez pra Mim - Maria Bethânia
Like I'm Gonna Love You - Meghan Trainor ft. John Legend
In Your Atmosphere - John Mayer
A Noite - Tiê
The Trouble With Us - Chet Faker ft. Marcus Marr
Lost - Liza Anne
When We Were Young - The Sweet Remains
Since U Been Gone - Kelly Clarkson
In Case - Demi Lovato
Old Friend - Angus & Julia Stone
Quem, Além de Você? - Leoni
Photograph - Ed Sheeran
High Hopes - Kodaline
Gone, Gone, Gone - Phillip Phillips
It's a Fluke - Tiago Iorc
Kiss Quick - Matt Nathanson
Alive - Sia
Os Outros - Kid Abelha
Feels Like We Only Go Backwards - Tame Impala
Nothing Compares 2 U - Sinéad O'Connor
Stubborn Love - The Lumineers
Resposta ao Tempo - Nana Caymmi
Girlfriend On Demand - Joss Stone
I Didnt' Know My Own Strength - Witney Houston
The Way I Am - Ingrid Michaelson
Someone New - Banks
A Thousand Years - Christina Perri
Brand New Me - Alicia Keys
Closing Time - Semisonic
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Foto: Momentum Saga

Olá! Tudo bem?

Ainda estamos em outubro e aproveitando a recente leitura que fiz, resolvi trazer mais uma resenha de arrepiar para comemorarmos o Halloween. O livro Medicina dos Horrores da historiada americana Lindsay Fitzharris nos foi enviado por nossa querida editora parceira Intrínseca e agora vim contar tudo que achei a respeito dessa obra. 



Autor(a): Lindsay Fitzharris
Editora: Intrínseca
Gênero: Não Ficcção
Número de Páginas: 320
Sinopse: Em Medicina dos horrores, a historiadora Lindsey Fitzharris narra como era o chocante mundo da cirurgia do século XIX, que estava às vésperas de uma profunda transformação. A autora evoca os primeiros anfiteatros de operações — lugares abafados onde os procedimentos eram feitos diante de plateias lotadas — e cirurgiões pioneiros, cujo ofício era saudado não pela precisão, mas pela velocidade e pela força bruta, uma vez que não havia anestesia. Não à toa, os mais célebres cirurgiões da época eram capazes de amputar uma perna em menos de trinta segundos. Trabalhando sem luvas e sem qualquer cuidado com a higiene básica, esses profissionais, alheios à existência de micro-organismos, ficavam perplexos com as infecções pós-operatórias, o que mantinha as taxas de mortalidade implacavelmente elevadas. É nesse cenário, em que se considerava mais provável um homem sobreviver à guerra do que ao hospital, que emerge a figura de Joseph Lister, um jovem médico que desvendaria esse enigma mortal e mudaria o curso da história. Concentrando-se no tumultuado período entre 1850 e 1875, a autora nos apresenta Lister e seus contemporâneos e nos conduz por imundas escolas de medicina, os sórdidos hospitais onde eles aprimoravam sua arte, as “casas da morte” onde estudavam anatomia e os cemitérios, que eles volta e meia invadiam para roubar cadáveres.

Hoje em dia pensamos que procedimentos cirúrgicos são super tranquilos e fáceis de serem realizados, as taxas de morte estão cada vez mais baixas e temos um verdadeiro arsenal de produtos, medicamentos e outros recursos que nos impedem de contrairmos uma infecção ou que ajudam no processo de cicatrização, não é mesmo?  Mas sempre foi assim? A pesquisadora, historiada e escritora Lindsey Fitzharris se propôs a mergulhar a fundo na história da medicina cirúrgica, desde seus primórdios até as técnicas mais modernas que conhecemos hoje em dia em que a história da medicina se cruza diretamente com a de um jovem médico e cientista chamado Joseph Lister que dedicou toda a sua vida a pesquisar, implementar e evoluir os procedimentos cirúrgicos até chegarem nos estágios em que conhecemos hoje. 

Não se enganem: Todo o prestígio em ser um cirurgião é recente. Lá em 1850, o quadro era bem diferente e os cirurgiões eram comparados como açougueiros, muitas vezes trabalhavam por horas seguidas e eram muito mal remunerados - quando ainda recebiam algum salário por isso. O cenário cirúrgico 150 anos atrás era catastrófico em que realizar uma operação era praticamente a última opção a ser adotada para a resolução de uma doença e, quando realizada, dava errado e o paciente morria. Os hospitais também eram caóticos: Na época não existia esterilização dos instrumentos, troca de roupas de cama dentre os pacientes e qualquer outro método de higiene; a situação não podia ser pior: Se você fosse ao hospital, as chances de você contrair alguma bactéria e acabar morrendo eram maiores do que você se tratar em casa. Como disse, os cirurgiões eram trabalhadores braçais e sanguinários: Sem qualquer roupa de proteção, máscaras e instrumentos esterilizados, passavam horas realizando procedimentos brutais, amputando membros em anfiteatros lotados, abertos para a comunidade médica e científica acompanharem, em meio a sangue e dejetos. Por não existir anestesia na época, os pacientes eram amarrados nas macas improvisadas e desmaiavam por conta da dor proveniente dos procedimentos e da perda de sangue, que escorria livremente e sujava todo o recinto sem o menor cuidado. Médicos circulavam livremente pela "área cirúrgica" e muitos contraíam doenças e era muito comum que os cirurgiões morressem após algum tempo depois. 

Me perdoem pela descrição dos detalhes, eu sei que embrulha o estômago ler esse tipo de coisa, até porque para nós, hoje é impensável que cirurgias fossem realizadas de tal maneira já que hoje é tudo realizado de maneira tão limpa e consciente, mas esse é o tipo de relato que irão encontrar em Medicina dos Horrores; uma coisa irei dizer a vocês: Lindsay não deixa nada de fora e conta nos mínimos detalhes como eram realizadas as cirurgias em plena era vitoriana, no entanto, ainda que você seja uma pessoa sensível e que não tenha um estômago muito forte, é uma leitura riquíssima e que vai agregar muitos conhecimentos sobre a área médica. Sua escrita precisa beira à perfeição e você se sente como se estivesse lendo uma obra de ficção. A história é envolvente e muito "gostosa" de se ler (péssimo uso de palavras), mas ainda sim, recomendo evitar a leitura na hora das refeições porque em alguns momentos chega a ser repulsiva a leitura.




Em um cenário em que os médicos acreditavam que o pus era um processo de cicatrização natural do corpo e que os hospitais fediam e pessoas padeciam por conta da sépsis e a gangrena, por exemplo, surge um jovem médico chamado Joseph Lister que começa a se incomodar com os níveis altíssimos de mortes causadas por infecções generalizadas e inicia então um trabalho de pesquisa para encontrar uma forma para amenizar os efeitos negativos das cirurgias. Medicina dos Horrores se transforma numa espécie de "mini biografia" em que iremos conhecer os primeiros anos da vida de Joseph e a maneira com que o jovem entra no mundo da medicina e começa a trabalhar nas enfermarias dos hospitais. Joseph sempre foi considerado um médico "a frente" do seu tempo, pois o mesmo tratava seus pacientes de maneira humana, conhecendo melhor cada um deles e não se referindo a eles apenas pelas doenças que os levaram aos hospitais, atitude muito comum por outros médicos e cirurgiões que consideram seus pacientes como cobaias. 

Incomodado pelas condições precárias, Joseph que também era cientista, começa a observar na cidade e a buscar maneiras de melhorar a situação nos hospitais, principalmente o mau cheiro causado pelos corpos dos pacientes que não resistiam. Em meio as pesquisadas realizadas, o médico notou que o esgoto da cidade era tratado com ácido carbólico que ajudava na redução da emissão do mau odor. A partir de então o médico e cientista mergulhou a fundo em pesquisas até esbarrar em estudos realizados por ninguém menos que Louis Pasteur e então Joseph passa a adotar inúmeros procedimentos nas alas hospitalares: Os instrumentos cirúrgicos passaram a ser desinfestados utilizando o ácido carbólico e ele exigia que as roupas de cama dos leitos e os uniformes dos médicos fossem trocadas com frequência, evitando o acúmulo de substâncias como sangue, pus e dejetos. As janelas dos hospitais passaram a ser abertas e agora circulava ar entre os cômodos. Em poucos meses o cheiro podre e pungente do hospital em que trabalhava havia sumido e as taxas de morte por infecção caíram drasticamente. Em meio a todo o avanço, a grande barreira foi convencer os demais médicos e cirurgiões a adotarem essas medidas pois eles não acreditavam em germes e infecções. Em congressos realizados nos EUA e Londres, Joseph foi acusado de charlatanismo e que suas técnicas não eram eficientes. Lentamente, a eficácia dos tratamentos foram espalhadas pelos hospitais que perceberam que as taxas de morte estavam diminuindo e também a cicatrização estava mais rápida. Josephe Lister foi uma figura tão emblemática para o mundo da medicina que seu nome estampa a marca de um dos anticépticos bucais mais conhecidos do mundo, o Listerine. Os inúmeros estudos publicados por Lister serviram como guia para a modernização de procedimentos, além da adoção de suas técnicas de higienização e também a implementação de outras.

Como citei acima, Medicina dos Horrores é um livro que vai te deixar com aquele peso no estômago pois é muito difícil ler sobre como as cirurgias eram realizadas ali em meados de 1800, mas o trabalho de Lindsey é simplesmente impecável em trazer inúmeros conhecimentos até para  quem não é da área da saúde, assim como eu. Fiquei bem impressionado com os relatos do livro e é notável a força de vontade que Joseph teve para levar suas ideias para frente. Ele enfrentou muitos obstáculos e por várias vezes foi desacreditado, mas levando em consideração, graças as suas técnicas, inúmeras vidas foram salvas apenas ao adotar técnicas básicas de higienização.



Nota: 4,0 / 5,0 
* Livro cedido em parceria com a editora Intrísenca *



Com esse texto, finalizamos o nosso mês de outubro e nossos especiais de Halloween. Espero muito que tenham gostado da resenha de hoje e não se esqueça de deixar seu comentário e contar pra mim o que achou.

Nos vemos aqui no próximo sábado ou lá no Startes. 





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Olá, tudo bem? 

Vocês acharam que não teria especial de Halloween aqui no Cores, não é?

Brincadeiras à parte, estamos em outubro e achei que seria super legal trazer alguns textos temáticos aqui pra vocês pra entrarmos no clima. Vocês sabem que eu AMO terror e sempre trago alguma coisa do King aqui pra vocês. Pensei muito no que poderia fazer esse ano para comemorar o mês de terror e aproveitando a recente leitura do livro: Edgar Allan Poe: Medo Clássico, Volume 1, publicada pela editora Darkside, pensei em trazer uma mini resenha do livro além de compartilhar com vocês  uma lista com  os 5 melhores contos do autor para você que ama sentir aquele medo na hora de dormir. Espero que gostem. 

Ah, antes de começarmos, gostaria de convidar vocês a conhecerem um outro projeto que comecei junto com meu amigo: Startes, um site em que nos propomos a falar sobre música, livro, filmes, séries, jogos e o que mais quisermos. O site foi criado para justamente ser o ponto inicial para a discussão de temas artísticos em seu mais amplo aspecto e, caso vocês se interessem, iremos ficar muito felizes com a presença de vocês lá. Fazemos resenhas literárias, críticas de filmes e séries, além de outros especiais e textos dos mais diversos assuntos. Durante o mês de outubro, por exemplo, estamos trazendo alguns especiais de Halloween, então quem puder dar aquela forcinha não só acessando o site, mas divulgando para os amigos, seremos muito, muito gratos. Só clicar ali no link que vai ser redirecionado. Espero de coração que gostem. ♥ 


Foto: Canal Duda Menezes | Book Addict





Autor: Edgar Allan Poe
Editora: Darskide
Gênero: Contos, Terror
Número de Páginas: 384
Sinopse: Meia-noite. As asas de um corvo se misturam à escuridão. A velha casa em ruínas observa com janelas que pareciam olhos. Você jura ouvir a voz de alguém que já partiu para o outro lado, bem na hora em que um gato preto cruza seu caminho.Tudo o que hoje conhecemos como terror começou a ganhar forma na obra de Edgar Allan Poe. Genial e maldito, Poe é considerado o mestre dos mestres da literatura fantástica. Stephen King, Clive Barker ou H.P. Lovecraft são apenas alguns de seus discípulos mais sombrios. Porém, com certeza não são os únicos. Desde o século XIX, o criador de “O Corvo” vem influenciando gerações de escritores consagrados, dos mais diversos gêneros, como Henry James, Franz Kafka, Arthur Conan Doyle, Júlio Verne, Vladimir Nabokov, Oscar Wilde e Jorge Luis Borges.Mais de duzentos anos após seu nascimento, Poe continua atual. Sua obra se mantém em catálogo por todos os continentes, nos mais diversos idiomas, e é tema comum em teses de mestrado. Do mundo acadêmico para a cultura pop, de tempos em tempos as histórias fantásticas do autor ganham novas adaptações no cinema, na TV, na literatura.

Para quem curte o gênero, é praticamente impossível nunca ter ouvido falar de Edgar Allen Poe. Um dos maiores autores que já pisaram na Terra se mantém sendo uma referência e inspiração para grandes nomes contemporâneos da literatura, como Lovecraft e nosso tão amado Stephen King. Eu sempre tive muita curiosidade de ler algo do Poe, até porque sua contribuição para a literatura não tem barreiras e muitas de suas obras também já foram adaptadas para o cinema, televisão ou teatro. Quando um autor é tido como um dos grandes clássicos e possui um acervo muito grande, para quem está iniciando nas leituras pode ser um pouco confuso em encontrar o ponto de início: Muitas vezes por falta de informação você começa por uma ordem errada e se torna muito complicado se situar no universo criado pelo autor. Assim que a Darkside lançou esse volume, eu fiquei totalmente maravilhado. Motivo 1: O carro-chefe da editora é o terror. Logo, ter Allan Poe em seu catálogo é de suma importância. Motivo 2: Em medo Clássico, a editora compilou a trouxe seus melhores e mais conhecidos contos nessa edição impecável ao estilo Darkside. Infelizmente, eu não gosto muito de ler contos, prefiro histórias mais densas e completas e livro logo ficou encalhado na estante. Com a aproximação do Halloween, eu me incubi dessa missão especial: Medo Clássico deveria ser uma leitura obrigatória para o mês de terror. 

Mesmo não sendo um amante de contos, eu rapidamente me identifiquei com o estilo de escrita do Poe: Ainda que fosse muito formal e rebuscado, ele escreve de uma maneira muito certeira e conquista o leitor logo de cara e também deixo aqui meus parabéns pelo excelente trabalho por Marcia Heloisa na tradução do livro Seus contos misturam o sombrio e o macabro com a realidade humana, a maneira com que ele fala sobre morte é assustadoramente real e agora entendo o motivo de Poe ser tão famoso e aclamado até os dias de hoje. Apesar de serem textos rápidos e que não possuem muito aprofundamento, o autor consegue criar o ambiente propício, além de descrever e desenvolver muito bem o contexto de suas histórias em poucas páginas; Você realmente se interessa em saber amais sobre as narrativas, que mesclam elementos de terror e suspense. A edição que a Darkside trouxe 16 de seus melhores contos divididos de acordo com os temas abordados. Particularmente gostei de quase todos (obviamente escolhi 5 pra falar pra vocês hoje), e somente um ou outro que não curti muito, mas acredito que tenha tirado um bom proveito do livro. A partir de agora, irei olhar livros de contos de maneira diferentes. É possível sim escrever histórias curtas que sejam tão densas e interessantes quanto livros de 200, 300 páginas. Medo Clássico conta também com alguns extras, como uma breve biografia de Poe e fotos de sua casa, como também a versão original de um de seus poemas mais famosos, O Corvo. A continuação do livro já está nas lojas e mal posso esperar para ter em mãos o Volume 2.  

Vamos falar dos contos?

O livro foi divido em 5 categorias distintas: Espectro da Morte, Narradores Homicidas, Detetive Dupin, Mulheres Etéreas, Ímpeto Aventureiro, além de uma sessão especial dedicada para O Corvo, que seu poema mais famoso e conhecido. De cada uma dessas categorias, eu escolhi um conto para destacar aqui pra vocês.

Conto 1: O Baile da Morte Vermelha


Eu escolhi falar sobre O Baile da Morte Vermelha por ter sido um dos contos que mais me marcaram enquanto fazia a leitura do livro. Não vou me estender muito na descrição da história, uma vez que a mesma apresenta uma grande reviravolta no final. mas aqui iremos conhecer a história de um príncipe que tranca em seu castelo as pessoas mais ricas do vilarejo em que mora para salvá-los de uma terrível doença mortal. Seguros dentre as paredes dos castelos onde a comida e recursos abundantes e enquanto os pobres definham por conta da doença, o príncipe resolve dar um luxuoso baile de máscaras, no entanto, ele não conta com a presença de um inimigo silencioso e mortal.

Conto 2: O Gato Preto 


Esse conto foi um pouco difícil de entender, confesso que não havia decifrado logo de cara a mensagem passada pelo autor, até porque não conheço muitos detalhes de sua vida pessoal. Em pesquisas pela internet, encontrei vários sites que se dedicam a divulgar as obras de Poe que elegem O Gato Preto como uma das obras mais autobiográficas escritas pelo autor que narra de maneira metafórica seus vícios e seu estilo de vida noturna. É um conto muito interessante e que traz o mesmo tom sombrio enquanto Poe desccreve sua própria vida e arrependimentos e traz também um final arrepiante e surpreendente.

Conto 3: Os assassinatos na rua Morgue

O capítulo do livro intitulado como "Detetive Duplin" é formado por três contos que trazem o detetive C. Auguste Dupin como protagonista das histórias. Juntamente como Os Assassinatos na Rua Morgue, O Mistério de Marie Rogêt e A Carta Roubada, os contos deixam de lado os elementos de terror e Poe passa a explorar uma vertente mais investigativa em que muitos consideram o Detetive Duplin como o "pai" de grandes detetives da literatura como Sherlok Holmes e Hercule Poirot. Os três contos são frenéticos  e eletrizantes em que Poe traz elementos reais como assassinatos que de fato aconteceram para a confecção das suas histórias. Foi a minha sessão favorita do livro inteiro e para os fãs de suspense policial, os três contos são simplesmente imperdíveis.


Conto 4: Berenice

Extremamente violento e sanguinário, Berenice foi um dos contos do autor que mais me chocou durante a leitura do livro. Apostando em uma escrita explícita em que nenhum detalhe foi poupado, Poe conta a história de Egeu, um homem que se casa com Berenice, sua prima. A personagem começa a definhar por conta de uma doença misteriosa e sofrer de terríveis efeitos colaterais, sendo seus dentes as únicas parte do corpo da jovem que se mantiveram saudáveis. Egeu, então, desenvolve uma obsessão por eles e após a morte de Berenice, Egeu não consegue mais controlar seu comportamento obsessivo. Um conto bem perturbador e que desde sua publicação em 1835, vem levantando discussões e questionamentos.


Conto 5: O Escaravelho do Diabo

Em um de seus contos mais famosos e conhecidos, O Escaravelho do Diabo novamente traz novamente um lado mais investigativo em uma história de suspense super curta e fácil para ler. O jovem rico Willian Legrand encontra um escaravelho misterioso que começa a exercer influência em sua mente, perturbando sua sanidade mental. O jovem então mergulha em mistérios e segredos para identificar a origem do escaravelho e como encontrar uma forma de se livrar da ameaça. Dos contos da lista, é o mais curto e fácil de ser lido e ele traz elementos do terror clássico que o autor se tornou conhecido. O conto apresenta um desfecho inesperado e surpreendente e certamente foi um dos melhores que eu li.

Bom, gente, esse foi o texto especial de hoje, espero que vocês tenham gostado da resenha do livro e dos contos que escolhi pra trazer aqui pra vocês, eu certamente fiquei muito feliz de ter feito a leitura de Medo Clássico e de enfim ter conhecido um pouquinho desse grande escritor.

Nos vemos no próximo sábado ou lá no Startes.

Até lá!


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Olá, tudo bem com vocês?

Pra quem acompanha meus textos aqui para o site faz um tempinho, sabem que o livro da autora Becky Albertalli, "Com Amor, Simon", se transformou num dos meus queridos da vida toda; O livro foi tão importante e marcante pra mim que inclusive entrou na minha lista de melhores leituras do ano de 2018. Eu demorei, mas comprei a "continuação indireta" da história de Simon, chamado Leah Fora de Sintonia, que traz a melhor amiga do carismático personagem como protagonista e agora temos a chance de conhecer melhor suas inseguranças e angústias.


Autor(a): Becky Albertalli
Editora: Intrínseca
Gênero: YA, Comédia, Drama
Número de Páginas: 320
Sinopse: Leah odeia demonstrações públicas de afeto. Odeia clichês adolescentes. Odeia quem odeia Harry Potter. Odeia o novo namorado da mãe. Odeia pessoas fofas e felizes. Ela odeia muitas coisas e não tem o menor problema em expor suas opiniões. Mas, ultimamente, ela tem se sentido estranha, como se algo em sua vida estivesse fora de sintonia. No último ano do colégio, em poucas semanas vai ter que se despedir dos amigos, da mãe, da banda em que toca bateria, de tudo que conhece. E, para completar, seus amigos não fazem ideia de que ela pode estar apaixonada por alguém que até então odiava, uma garota que não sai de sua cabeça. Nesta sequência do sucesso Com amor, Simon, vamos mergulhar na vida e nas dúvidas da melhor amiga de Simon Spier. Em um livro só dela, mas com participações mais do que especiais dos personagens do primeiro livro, vamos acompanhar Leah em sua luta para se encontrar e saber com quem dividir suas verdades e seus sentimentos mais profundos.


Eu considero Becky uma das melhores autoras da nossa geração. A mesma possui uma particularidade muito grande em sua escrita e eu acho simplesmente sensacional a maneira com que a autora se propõe a discutir assuntos que sejam ainda tão delicados de uma maneira totalmente natural e coesa com a história criada. Leah é uma adolescente que sofre com a separação dos pais e o mais novo namorado da mãe. Ela não se dá muito bem com as pessoas na escola que frequentemente fazem críticas ao seu peso, mesmo ela não se incomodando com esse detalhe. Ela precisa lidar com muitas coisas, incluindo a sua bissexualidade, que ainda é um segredo para todos, inclusive Simon, seu melhor amigo. Com a proximidade do baile de formatura e o término do ensino médio, todos estão muito animados com as mudanças em suas vidas: Estão escolhendo faculdades e fazendo planos para a vida adulta e Leah simplesmente sente que está sendo deixada de lado. Tudo piora quando começa a descobrir que o sentimento de rejeição que sentia por uma menina se transforma em atração e, posteriormente, amor. Sofrendo por se apaixonar por uma menina hétero que, ainda por cima, é namorada de um de seus amigos, Leah passa por esse turbilhão de emoções enquanto precisa lidar por todas essas questões e ainda decidir o que é melhor para seu futuro.

- Está de dieta?  - pergunta Taylor.
- Hein?
Sério, quem faz uma pergunta dessas? Antes de mais nada, acabei de comer vinte toneladas de M&M's. Depois, que tal ficar de boca calada um pouquinho? As pessoas não conseguem assimilar o conceito de uma garota gorda que não faz dieta. É difícil acreditar que eu possa realmente gostar do meu corpo?

No início do texto, eu classifiquei o livro como uma continuação indireta de Com Amor, Simon. Por que eu disse isso? Apesar da narrativa em Leah Fora de Sintonia trazer os mesmos personagens e dar sequência aos eventos após o término do primeiro livro, você não precisa necessariamente ter lido para entender o contexto da história, uma vez que o foco da narrativa é Leah. Ainda que o livro faça algumas referências a história anterior, Becky teve o cuidado de fazer algumas explicações ao longo da narrativa para que as pessoas que não leram seu livro anterior não se sentissem perdidas com o que estava acontecendo. Leah Fora de Sintonia traz a mesma escrita irônica e engraçada da autora e é simplesmente uma delícia de ser lido. Você se distrai e mergulha nos dramas de cada um dos personagens e é fácil perder a hora enquanto lê, contudo, o livro foi bem inferior em alguns quesitos que iremos discutir a seguir. 



Ainda que a história seja escrita de maneira muito agradável, eu simplesmente odiei a Leah. Eu não me lembro da personagem ser tão chata em Com Amor, Simon - inclusive estou pensando em reler o livro só pra ver se a autora modificou tanto a personagem assim, ou ela sempre foi desse jeito, mas não prestava muita atenção nesses detalhes porque estava focado em saber da história do Simon. A personagem tem seus problemas e entendemos isso, mas a menina reclama literalmente de tudo que acontece ao seu redor. Nada nunca tá bom, ela nunca tá satisfeita, ela nunca fica feliz, não importa o quanto as pessoas ao seu redor se preocupem com ela. Chega um ponto que a leitura fica realmente difícil porque Leah se coloca no papel de vítima 100% do tempo e não faz nada pra mudar esse cenário. Diferentemente de Simon que logo consegui desenvolver uma forte relação de simpatia, Leah é apática e nada carismática e eu queria dar uns sacodes nela pra ver se ela acordava pra vida. Sério, não dava. Ao mesmo tempo em que o livro traz ótimos questionamentos, como essa obsessão pelo corpo perfeito e Leah simplesmente não se importar com isso, a personagem em outros questões era totalmente insuportável.

Outra coisa que me incomodou demais foi o desenvolvimento da relação dela com a tal menina. Não irei contar muito sobre isso por motivos de spoilers, no entanto, o livro é muito repetitivo e a autora toma um tempo demasiadamente longo pra não chegar em lugar nenhum: São capítulos e capítulos que ficam naquele "lenga lenga" e você simplesmente não aguenta mais ler sobre a mesma coisa. Os diálogos entre as duas também foram bem esquisitos e Leah sempre repetia a mesma coisa. Tava cansado já. Novamente, torno a frisar que acho Becky uma das autoras mais representativas da atualidade. Ela busca sempre incluir protagonistas diferentes e temáticas muito delicadas que precisam ser discutida, mas em Leah Fora de Sintonia, não curti muito a maneira com que os temas como separação, bissexualidade e foram retratados. Achei tudo um tanto quanto esquisito e em algumas situações até forçadas. Já o racismo, um outro tema explorado na história, achei super pertinente e bem escrito. Foi um ponto de destaque positivo na obra e vale ser mencionado.

A única coisa pior do que experimentar vestidos é ouvir um monte de garotas magrelas experimentando vestidos no provador do lado. Ouvi-las procurando defeitas em si mesmas. É como se nem adiantasse eu gostar do meu corpo, porque sempre tem alguém para me lembrar de que eu não deveria gostar.

Se por um lado o gancho principal da história do livro estava chato, o mesmo não devo dizer sobre o desdobramento das narrativas dos personagens secundários. Simon continua sendo o melhor personagem já escrito pela autora e confesso que fiquei mais curioso em saber mais sobre o que aconteceria com ele e "Blue" do que a história da Leah em si. Os personagens coadjuvantes continuam exercendo um papel fundamental e de suma importância para o desenvolvimento da narrativa e particularmente, gosto muito da maneira com que Becky mistura a vida dos seus personagens nessas situações diversas em que cada um é construído de maneira interessante e coesa. Eles possuem seus momentos de destaque na obra e apesar dos problemas que encontrei com a história da Leah, tenham certeza de que o livro continua sendo muito divertido e algumas cenas são simplesmente hilárias e memoráveis, como o convite de Simon para o baile de formatura.

Leah Fora de Sintonia traz uma ótima mensagem de aceitação e empoderamento e, em minha opinião, se a autora não tivesse criado de maneira tão "artificial" o relacionamento entre as duas, o livro teria um resultado muito superior. Mesmo não sendo lá sua melhor obra (eu amo e vou defender Simon até o final), é uma leitura leve e rápida de ser feita, trazendo temas modernos em uma narrativa moderna e jovial. Recomendo que você faça a leitura de Com Amor, Simon e depois leia Leah, pois é uma ótima oportunidade de complementar as narrativas criadas no primeiro livro e ainda matar as saudades de personagens tão importantes e representativos.



Nota: 3,5 / 5,0 



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Olá, tudo bem?

Você sabe quem foi Josef Mengele? Conhecido como o Anjo da Morte, o médico nazista trabalhava em Auschwitz, a maior rede de campos de concentração localizados na Polônia durante a Segunda Guerra Mundial. Estima-se que 1.3 milhão de judeus foram mortos nas câmaras de gás ou não resistiram às diversas torturas e ao regime de trabalho escravo em que eram obrigados a trabalharem. Muitos também morreram por fome ou por não possuírem as mínimas condições básicas para a vida. Josef Mengele desempenhou um triste papel na vida dessas pessoas: O médico realizava uma espécie de triagem em que decidia o destino dos homens, mulheres e crianças:, As câmaras de gás, os trabalhos escravos no campo ou se seriam cobaias para os experimentos macabros que ele realizava em seu laboratório. No final da Segunda Guerra após a Alemanha ser derrotada, o médico consegue escapar das acusações e consegue refúgio na Argentina, local que viveu por muitos anos, até sua morte em solo brasileiro em 1979. O jornalista francês Olivier Guez refez os passos do Anjo da Morte e conta com uma riqueza impressionante de detalhes a história de um dos personagens mais emblemáticos e cruéis de um período tão obscuro da nossa história. O livro "O desaparecimento de Josefe Mengele" é o mais novo lançamento da editora Intrínseca e conta exatamente sobre os anos em que o médico se exilou na Argentina para fugir das consequências de seus terríveis atos. 



Autor(a): Olivier Guez
Editora: Intrínseca
Gênero: Romance-Verdade
Número de Páginas: 223
Sinopse: Josef Mengele, o médico nazista que ficou conhecido como Anjo da Morte no campo de concentração de Auschwitz, escolhia o destino de suas vítimas: as câmaras de gás, os trabalhos forçados ou seu laboratório, alimentado diariamente com anões, gigantes, deformados e gêmeos para pesquisas e experimentos macabros. Ele consegue escapar dos tribunais no fim da Segunda Guerra Mundial, mudando-se para a América do Sul em 1949, quando chega à Argentina. Escondido sob vários pseudônimos, Mengele acredita poder levar uma vida nova em Buenos Aires. A Argentina de Perón é benevolente, o mundo inteiro quer esquecer os crimes cometidos pelos nazistas. Mas a perseguição recomeça e o médico precisa fugir para o Paraguai e depois para o Brasil. Sua mudança de esconderijo para esconderijo não cessou até a sua morte misteriosa em uma praia brasileira no ano de 1979. Como um médico da mais temida organização nazista pôde passar despercebido por trinta anos? O desaparecimento de Josef Mengele é um mergulho em um mundo corrompido pelo fanatismo, a política, o dinheiro e a ambição, habitado por velhos nazistas, agentes do Mossad, espiões e ditadores. Olivier Guez traça a odisseia da fuga de Josef Mengele pela América do Sul, em um romance-verdade sobre sua vida clandestina depois da guerra.


Primeiramente, devo iniciar essa resenha dando meus parabéns ao autor. Ele não só mergulhou na história de Josefe em busca da verdade sobre o conturbado desaparecimento do médico e sua fuga para América do sul, mas o jornalista refaz todos seus passos, a começar pela Alemanha, vindo até a América do Sul e visitando países como a Argentina, o Peru e o Brasil em busca de evidências do período em que viveu em tais países para a reconstrução de sua história. Todo seu trabalho de pesquisa o possibilitou a escrita de um livro denominado como "romance-verdade" ao invés de trazer uma biografia em si. O livro não aborda aspectos pessoais do médico, ainda que por diversas vezes, através da dramatização da história, Josefe relembra do seu passado. Foi uma experiência totalmente diferente de tudo que eu havia lido até então (incluindo romances históricos), pois você se sente como se estivesse lendo uma matéria de jornal ou reportagem especial sobre a temática, mesmo que houvessem personagens e dramatizações das cenas. O sentimento que tive foi de que estava assitindo a um documentário e chega a ser impressionante o nível de conhecimento que Olivier obteve durante suas pesquisas para a elaboração do livro. O autor francês também parece ter vivido dentro da cabeça de Mengele em que apresenta para o leitor uma espécie de ponto de vista sobre o que ele pensava dos ideais hitleristas e de como o isolamento na América do Sul afetou sua vida. O relato é verídico e muito coeso, repleto de curiosidades e outras informações das quais não possuía o conhecimento - como, por exemplo, a simpatia pelo regime nazista de Perón, presidente argentino na época em que Mengele esteve no país. 


A obra não funciona como uma biografia, como citei acima e apesar de se aprofundar melhor na vida do médico, O Desaparecimento de Josef Mengele relata a caçada internacional em busca do paradeiro do médico. Desde que escapou dos tribunais alemães e com medo de se tornar um prisioneiro político, Mengele foge para a América até que as coisas em seu país de origem "voltem ao normal", como ele mesmo sugere. Nesse ponto do livro, a narrativa se propõe a ilustrar até então um lado totalmente diferente do médico: Em seus relatos e cartas enviados para sua esposa, Mengele demonstra toda a solidão que sente por estar em solo estrangeiro e se mostra acuado, com medo do que pode vir a acontecer em seu futuro. Em momento algum o livro tenta amenizar as atrocidades cometidas em seu laboratório e não ocorre a mudança de imagem de um homem sádico e cruel. Ainda que ele estivesse com medo, Josef acreditava cegamente que era necessário fazer todas aquelas coisas em prol de algo maior. 




A caçada ao Anjo da Morte chegou ao fim em fevereiro de 1979 quando seu corpo foi encontrado em uma praia no litoral paulista. As autópsias revelaram que Josef Mengele morreu devido a um mal súbito, encerrando assim uma série de fugas por inúmeros países, sempre facilitado por conhecidos e outras pessoas que apoiavam o nazismo que possibilitaram essas movimentações clandestinas sob inúmeras identidades. Todos esses fatos são contados em inúmeros detalhes em uma narrativa muito envolvente e fluída; é um livro relativamente curto e que você consegue finalizá-lo em algumas horas, ainda que o conteúdo da obra em si seja muito pesada. Para vocês terem uma ideia, a narrativa verídica construída por Olivier Guez é tão rica em termos de pesquisa, que seu livro recebeu o prêmio do Prix Renaudot em 2017, um dos maiores prêmios nacionais. A verdade sobre o desaparecimento de Josef Mengele foi sempre cercada de muito mistério e perguntas que levaram anos até finalmente serem respondidas. Uma grande recompensa era oferecida para quem dispusesse de qualquer informação sobre seu paradeiro e/ou encontrasse seu corpo. Graças ao exímio trabalho de pesquisa realizado pelo jornalista francês, foram apresentadas algumas respostas para questões que se mantiveram no ar durante décadas. 


Nota: 4,0 / 5,0 
*Livro cedido em parceria com a editora Intrínseca* 


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Foto: Vai Lendo

Ei!

Tudo bem?

Já comentei inúmeras vezes aqui com vocês sobre o papel social que a literatura possui. Através de suas histórias, os autores podem explorar temáticas que muitas vezes não são tão comuns assim e, assim ser capaz de desmistificar alguns conceitos que repetimos erroneamente. Sabemos muito bem como a sociedade julga e castiga aqueles que pensam, se comportam ou "são" diferentes dos padrões e eu amo quando pego um livro que foge exatamente desses conceitos já conhecidos e expõem outras perspectivas e pontos de vista. Estou falando disso pois a obra que escolhi trazer aqui pra vocês hoje é Menino de Ouro, da autora Abigail Thomas e lançado aqui no Brasil pela editora Globo Alt que se propõe em discutir a intersexualidade (hermafroditismo) na adolescência.



Autor(a): Abigail Thomas
Editora: Globo Alt
Gênero: Ficção, YA, Drama
Nùmero de Páginas: 384
Sinopse: A família de Max não permitiria nenhum desvio na imagem perfeita que havia construído. Karen, a mãe, é uma advogada renomada, determinada a manter a fachada de boa mãe, esposa e profissional. Steve, o pai, é o exemplo do chefe de família presente em sua comunidade, favorito a um importante cargo público. O ponto fora da curva é Daniel, o caçula, que, para os padrões da família Walker, é “estranho”: não é carinhoso, inteligente ou perfeito como Max. Melhor aluno da escola, capitão do time de futebol, atlético, simpático, sucesso entre as garotas: Max, o primogênito, é o menino de ouro. Ninguém poderia dizer que sua vida não é perfeitamente normal. Ninguém poderia dizer que Max esconde um segredo. Ele é diferente, especial. Max é intersexual: nasceu com os dois conjuntos de cromossomos, XX e XY e, portanto, é menino e menina. Ou nenhum dos dois. É a partir do olhar de cada pessoa que orbita a vida de Max que a autora Abigail Tarttelin compõe a sua narrativa em Menino de Ouro. Cada uma das personagens esboça seu dia a dia, suas inseguranças e conquistas, e, principalmente, seu relacionamento com Max. Apesar da dimensão de seu segredo, Max parece à vontade com sua vida. Seus questionamentos sobre sexo, relacionamentos e até sobre rejeição são tantos quanto um adolescente de 15 anos poderia ter. O cenário muda drasticamente quando Hunter, seu melhor amigo desde a infância, volta do passado e abusa de sua confiança da pior maneira que poderia. Max se vê forçado a explorar seu segredo radicalmente, e percebe que muito mais foi escondido desde o seu nascimento. Por que sua família nunca conversou sobre suas opções? Quais eram elas? Como seria seu futuro? Como os outros lidariam com ele agora: seus amigos, seus parentes... Sua namorada? Quem é Max, realmente?



Max é um menino de 16 anos que se encaixa perfeitamente ao título do livro e é totalmente padrãozinho: Menino de Ouro. Possui uma boa criação, estudou em boas escolas, possui amplo acesso a tecnologia, é educado, gentil, carinhoso, inteligente, popular na escola e crush de quase todas as meninas de sua turma. Seus pais possuem uma boa condição financeira; sua mãe trabalha como advogada e seu pai, político. Eles vivem uma casa grande e confortável junto com o irmão de Max, Daniel que possui 10 anos. Em suma, eles são a representação de uma família de comercial de margarina: Sem defeitos. No entanto, Max nasceu com uma rara condição genética em que ele possui ambos os órgãos reprodutores masculino e feminino, além de ambos os pares de cromossomos, XX e XY. Em outras palavras, Max é intersexual (também conhecido como hermafrodita). Tal condição é o grande segredo da família que opta por manter a condição em segredo por medo da reação das pessoas, principalmente devido ao preconceito. Após um evento traumático e devastador, Max é obrigado a confrontar seus pais e entender tudo sobre sua condição, além de precisar lidar com as consequência de tal evento e se descobrir.

Mas, para ser honesto, nunca pensei de fato sobre isso. Só tenho sido o Max.

Eu sei que a sinopse que eu fiz não conta muito sobre a história, mas realmente é necessário manter um "mistério" com relação aos eventos para que vocês possam sorver ao máximo dessa leitura incrível. Max sempre se sentiu confortável com sua condição e enxergava as coisas com normalidade, ainda que seus pais não revelassem por completo todos os detalhes sobre a sua condição, no entanto, o personagem passa por uma jornada de descobrimento, aceitação e, acima de tudo, em busca da verdade sobre quem de fato é. Mesmo não podendo dar mais detalhes, uma coisa é necessário avisar vocês desde já:  O início do livro é brutal e devastador. Tal evento ocorre logo nas primeiras páginas  e é algo repulsivo. Algumas pessoas podem estranhar ou se incomodarem com o teor da narrativa, pois a autora escreve de maneira explícita e interminável. Eu digo isso pois eu realmente me incomodei e cogitei em largar a leitura, no entanto, é algo totalmente pertinente e que basicamente servirá como apoio para a construção de toda a história de Menino de Ouro. Continuem que vão se surpreender. Eu, particularmente, não possuía nenhuma informação a respeito sobre intersexualismo e a obra foi uma grata surpresa. O livro é uma verdadeira aula sobre a temática em que são compartilhadas inúmeras lições sobre a condição, sexualidade, e diversas coisas que sequer eu poderia imaginar que estariam envolvidas. Pude perceber que o assunto é muito mais complexo do que parece e envolvem outras questões, principalmente sobre o lado psicológico do portador dessa condição. A adolescência já é uma etapa da vida altamente complicada e complexa, geralmente possuímos muito medo de rejeição e solidão e, muitas vezes optamos por "passar despercebidos" e não chamar atenção, imaginem na situação do Max ter que lidar com isso tudo e ainda com o fato de não entender quem ele de fato é?

Você precisa de coragem para fazer qualquer coisa. A mesma coragem que precisa ter para fazer um teste ou fazer escolhas ou escrever um poema quando o último que fez ficou uma merda, é a mesma coisa que sair à noite sem ficar apavorado. Se tiver medo, você nunca vai viver. Você precisa de coragem pra viver.

Menino de Ouro é um livro muito informativo e deixo aqui os meus parabéns para a autora. Não faço ideia de como ela adquiriu todos esses conhecimentos, mas é perceptível a propriedade com que a mesma escreve e narra as inúmeras situações vividas por Max. Talvez nesse ponto você pode estar pensando que a obra é algo maçante e científico, mas é uma leitura fluída e que se adapta ao público; Através dos personagens, a autora conversa com o leitor e desperta um forte sentimento de empatia: É impossível não se conectar com todo o drama do adolescente e chega ser extremamente sufocante ver o quão perdido ele se encontra com relação a sua própria vida. O livro é muito dinâmico e a história é narrada a partir de diversos personagens e suas perspectivas sobre a história. Particularmente, gosto muito quando os autores fazem uso dessa técnica pois acredito que dessa forma, se consegue trabalhar melhor a conexão e inserção dos personagens na trama e também entender melhor um pouquinho o que cada um deles pensa a respeito do assunto, o que facilita ainda mais a construção desse sentimento empático que comentei agora pouco. É uma leitura que coloca o dedo na ferida e expõe diversas falhas em nossa sociedade atual (eu infelizmente não posso comentar muito sobre para não entregar detalhes), mas acreditem em mim: É um livro doloroso, cruel e extremamente real. O melhor de tudo é que Abigail escreve de uma maneira tão prazerosa de ler e os personagens possuem um senso de humor coerente com a história criada que acaba se tornando algo "menos difícil" de se ler. Em momento algum fiquei entediado ou achei que a abordagem médica e científica tenha sido exagerada ou muito difícil para que pessoas leigas no assuntos (assim como eu) não conseguissem entender; muito pelo contrário.

Quando eu era pequeno, os médicos me chamaram de hermafrodita. Essa palavra tem muito estigma, mas como palavra, por si só, prefiro essa. É uma coisa. Não é algo entre duas coisas.

A minha única reclamação com o livro (e que de fato não me incomodou tanto, é apenas um detalhe) é que achei Max um tanto quanto "reativo" com relação ao seu diagnóstico. A adolescência é uma fase de descobertas e de muita curiosidade, e mesmo que ele estivesse tranquilo com relação a sua condição e tratasse com normalidade (o que de fato é), me irritava um pouco o fato dele não querer buscar mais informações a respeito. O livro se passa nos anos atuais e o mesmo possui computador, celular, internet. É impossível que a única fonte para obter mais detalhes eram seus pais e ele fica uma boa parte da história se fazendo alguns questionamentos em que as respostas estavam ao alcance dos seus dedos. Acredito que a autora tenha optado por fazer dessa forma para que a história avançasse em seu ritmo próprio, mas hoje em dia é quase impossível se viver sem o Google do lado.

Estou começando a entender que tentar ser perfeito foi o objetivo da minha vida. Da nossa vida. Tentar ser essa pessoa sorridente e sem defeitos, nessa família amorosa e feliz que se encaixa perfeitamente nessa cidadezinha bonita e inofensiva. 

Como citei, encontrei apenas um único problema no livro, mas que não atrapalha de maneira nenhuma o andamento da história. Menino de Ouro é um dos melhores livros que li no mês passado - e estejam preparados para vê-lo na lista do final do ano - em que pude aprender muitas coisas sobre um tema em que praticamente todos desconhecem. É um livro altamente emocionante, educativo, informativo e que ao mesmo tempo é prazeroso e indicado para todas as idades. Acredito que seria uma ótima indicação para a utilização em clubes de leituras, debates sobre sexualidade e outras questões. Vale a pena demais! Como disse lá no início, Max faz jus ao título da obra, mas sem sobra de dúvidas, Abigail Thomas também é uma Autora de Ouro.


Nota: 5,0/5,0


Espero que tenham gostado da resenha de hoje e lembrem-se: Não se esqueçam de deixar seu comentário e compartilhar o texto com aquele seu amigo leitor. Nos vemos próximo sábado. Até lá!





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Foto: Paraíso das Ideias 

Olá!

Tudo bem com vocês?

Essa resenha finalmente saiu! Eu nem acredito. Se não me engano, lá em janeiro quando estava fazendo as minhas metas de leituras para o ano, coloquei o livro Vox da autora Christina Dalcher como uma das distopias obrigatórias para 2019. Os meses foram passando, fui empurrando a leitura com a barriga, mas finalmente as férias chegaram e eu consegui pegar para ler, o que me deixou muito feliz em finalmente riscar mais um livrinho da minha lista (vou ignorar totalmente o fato de que ainda me faltam aproximadamente uns 50 livros para finalizá-la e já estamos em setembro). 

Hoje vim falar um pouquinho pra vocês sobre. Vamos lá?


Autor(a): Christina Dalcher
Editora: Arqueiro
Gênero: Distopia, drama
Número de Páginas: 319
Sinopse: O governo decreta que as mulheres só podem falar 100 palavras por dia. A Dra. Jean McClellan está em negação. Ela não acredita que isso esteja acontecendo de verdade. Esse é só o começo... Em pouco tempo, as mulheres também são impedidas de trabalhar e os professores não ensinam mais as meninas a ler e escrever. Antes, cada pessoa falava em média 16 mil palavras por dia, mas agora as mulheres só têm 100 palavras para se fazer ouvir... mas não é o fim. Lutando por si mesma, sua filha e todas as mulheres silenciadas, Jean vai reivindicar sua voz.

Eu já comentei várias vezes que através da criação de uma distopia, os autores conseguem trazer críticas a um sistema governamental, uma situação que vivemos ou uma maneira com que a sociedade ou determinado grupo se comportam a fim de abrir a discussão a respeito de temas que, muitas vezes, são extremamente difíceis de serem abordados. Vox segue por esse mesmo estilo e logo de cara sua história se assemelha muito com um dos melhores livros do século, O Conto da Aia.

- (…) É uma organização com enorme peso religioso. - Jackie se inclinou pela janela, para ver melhor. - E são principalmente homens. Homens conservadores que amam seu Deus e seu país. - Ela suspirou. - As mulheres, nem tanto.

Em Vox, após a eleição de um presidente que possui uma forte ideologia religiosa e extremista, o governo norte americano decreta que as mulheres só podem falar 100 palavras por dia. As palavras são contadas a partir de um marcadores que carregam no pulso e após o limite ser atingido, as mulheres passam a receber choques que aumentam de acordo com o número de palavras excedidas.Dessa forma, elas aprenderam a viverem em silêncio, pensando muito bem antes de gastar a sua cota diária de palavras e passam a se comunicar através de gestos, quase como uma lingagem de sinais. Elas também precisaram sair de seus empregos, tiveram seus passaportes conficados, os livros foram guardados, foram proibidas de escrever e gerar qualquer conteúdo;  todo o acesso à informação é ditado e controlado por seus maridos, sendo suas unicas obrigações cuidar de seus filhos e dos afazeres de casa. Os alunos foram separados em escolas por gênero e para as crianças de pais do mesmo sexo, foi dado à tutela aos avós ou alguém responsável, enquanto seus pais eram levados para campos de concentração (exatamente esse termpo que utilizam no livro) onde eram "reabilitados".  Na escola das meninas, as alunas aprendem apenas a fazer contas, ver horas e a cuidar da casa e dos filhos, enquanto, para os meninos, eles recebiam uma rígida educação religiosa e eram vistos como "puros e salvadores". 

A protagonista da história, Jean McClellan, uma cientista renomada e fonoaudióloga se vê em um inferno particular e sem qualquer expectativa de mudança. Seus dias, outrora repletos de trabalho se reduzem a cuidar da casa, seus filhos e o marido. AO mesmo tempo, ela começa a ensinar a sua jovem filha a como se comportar nessa nova sociedade em que as mulheres são silenciadas. Um dia, Jean recebe uma inesperada visita: O presidente dos EUA a convoca para a retormar ao trabalho de pesquisa que a mesma já fazia na área para salvar o irmão do presidente, que sofre de uma terrível e misteriosa doença. Ela então recebe o status de "mulher livre", sua pulseira é retirada e não existe mais limite de palavras: Ela recebe acesso ao seu antigo laboratório e uma equipe, no qual devem trabalhar para descobrir a cura da doença. Enquanto Jean e seus outros parceiros seguem com o projeto, descobrem a terrível verdade a respeito da "convocação" do presidente, cuja pesquisa pode desencadear consequências graves e definitivas para a população e passam a trabalhar sob disfarce, arquitetando um plano para conseguirem derrubar o presidente e por um fim nesse regime totalitário. 

- Você não tem nada a ver com isso, mãe. A decisão é do meu pai.
Talvez tenha sido o que aconteceu na Alemanha com os nazistas, na Bósnia com os sérvios, em Ruanda com os hutus. Às vezes eu refletia sobre isso, sobre como as crianças podem se transformar em monstros, como aprendem que matar é certo e a opressão é justa, como em uma única geração o mundo pode mudar tanto até ficar irreconhecível.

A história, ainda que se assemelhe com O Conto da Aia e trate principalmente a repressão das mulheres, possui muita identidade, o que é muito bom. É um livro altamente polêmico que discute a junção da religião em ambiente político, transformando algo que, em teoria, deveria ser para todos em um regime totalitário, separatista e injusto. Em Vox, os ideais políticos e religiosos se misturam e criam todo esse ambiente que subjulga, tortura e desvaloriza principalmente as mulheres, mas também qualquer um que foge dos padrões impostos pela religião. Existem perseguições muito claras a negros, gays, pobres e pessoas que seguem religiões diferentes e o livro cumpre seu papel social de expor os problemas em que muitas vezes fingimos não ver. É uma história que se torna muito desesperadora de ler e altamente visceral. Ao mesmo tempo que se trata de uma distopia, podemos interpretar sua premissa como uma metáfora em que as mulheres lutam para serem ouvidas em uma sociedade machista e sexista. Outro ponto de reflexão que tiro é que o fato de haver uma limitação da quantidade de palavras é de que as mulheres precisam sempre provar tudo, estarem embasadas e estarem certas do que estão falando, caso contrário, não serão ouvidas, enquanto que para os homens, existe a liberdade de falar tudo, sem preocupações, restrições ou filtros. Vox nos passa lições muito fortes e uma mensagem clara de que a opressão acabou e de que as mulheres podem - devem e vão - conquistar seu espaço de fala.

Eu realmente amei a história, as metáforas e ensinamentos que Chrstina utilizou para a criação de Vox. Quanto à isso, eu realmente não tenho críticas e acho um dos livros mais autênticos e geniais dos últimos anos, no entanto, senti que a autora pecou em alguns detalhes duranta a execução da história. Todo o desenrolar da narrativa se desenvolve muito rápido e algumas coisas não consegui compreender totalmente o motivo de terem acontecido. O livro tem um pouco mais de 300 páginas e todos os capítulos são muito curtos, com duas ou três páginas no máximo e acontecem tantas reviravoltas e tantas outras coisas em um intervalo tão curto de páignas que fica difífil de acompanhar. Eu fiquei um pouco perdido com a narrativa dos personagens, várias vezes eles entram em momentos de divagação e lembranças do passado, no entanto, não ocorre nenhuma separação ou indicação na narrativa disso e várias vezes fiquei pensando se estavam lembando do passado ou se de fato estava acontecendo. Na questão dos personagens, nenhum se destacou, em minha opinião. Eu realmente não me senti conectado con nenhum deles e tampouco senti empatia por suas motivações e histórias pessoais e acredito que o fato do livro se desenvolver muito rápido, não dê o tempo certo para os leitores se acostumarem com os personagens. 

Apesar dos problemas que encontrei durante a narrativa, avalio Vox como uma experiência muito satisfatória e enriquecedora. O livro é bem frenético e você dificilmente se sente entediado, ao menos, foi o que senti, mesmo não tendo me conectado com os personagens. Acredito que seja um livro reflexivo e que traz inúmeros conhecimentos sobre todos esses temas, mas que pecou na execução e estruturação da história. O grande destaque da obra escrita por Dalcher vai para a maneira com que a autora criou o fanatismo religioso e os ideiais de "família tradicional" como ferramenta a se correlacionar com a nossa sociedade atual e a maneira com que ainda as mulheres são tratadas. Vox é um grito que rompe o silêncio e aponta a verdade em nossa cara. Com certeza foi uma ótima leitura e que recomendo para todos, principalmente para as pessoas que se interessam a entender melhor sobre como sociedades extremistas e regimes totalitários surgem.

Nota: 3,5 / 5,0 


 A única coisa necessária para o triunfo do mal é que os homens bons não façam nada.



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Foto: Minha Vida Literária
Olá!
Tudo bem com vocês?

Não, não se preocupem. Vocês não clicaram errado. Eu sei que vocês estranham quando não falo de King ou de algum livro de suspense, thriller mas é muito importante dar uma variada, não é mesmo?
Felizmente em agosto consegui retomar meu ritmo de leitura e creio que tenha sido o meu mês mais produtivo na área. Essa, se não, me engano, é a terceira vez que trago uma resenha de algum livro da Colleen Hoover aqui pra vocês, uma das autoras mais polêmicas da atualidade. Particularmente eu gosto muito de seu estilo de escrita e me agrada a forma com que a mesma monta a sua história. Hoje vim falar um pouquinho pra vocês a respeito do livro As Mil Partes do Meu Coração, lançada pela Galera Record.


 
Autor(a): Colleen Hoover
Editora: Galera Record
Gênero: Drama
Número de Páginas: 336
Sinopse: Para Merit Voss, a cerca branca ao redor da sua casa é a única coisa normal quando o assunto é sua família, peculiar e cheia de segredos. Eles moram em uma antiga igreja, batizada de Dólar Voss. A mãe, curada de um câncer, mora no porão, e o pai e o restante da família, no andar de cima. Isso inclui sua nova esposa, a ex-enfermeira da ex-mulher, o pequeno Moby, fruto desse relacionamento, o irmão mais velho, Utah, e a gêmea idêntica de Merit, Honor. E, como se a casa não tivesse cheia o bastante, ainda chegam o excêntrico Luck e o misterioso Sagan. Mas Merit sente que é o oposto de todos ali. Além de colecionar troféus que não ganhou, Merit também coleciona segredos que sua família insiste em manter. E começa a acreditar que não seria uma grande perda se um dia ela desaparecesse. Mas, antes disso, a garota decide que é hora de revelar todas as verdades e obrigá-los a enfim encarar o que aconteceu. Mas seu plano não sai como o esperado e ela deve decidir se pode dar uma segunda chance não apenas à sua família, mas também a si mesma. As mil partes do meu coração mostra que nunca é tarde para perdoar e que não existe família perfeita, por mais branca que seja a cerca.

Eu sei que muita gente não gosta da autora. Eu apenas li seus livros mais recentes, mas tenho uma amiga que gostava muito da autora, no entanto, parece que houve uma mudança muito brusca com relação aos estilos de livro que a autora publica, trazendo agora uma temática mais adulta e colocando em evidências assuntos complicados e de impacto. Particularmente me agrada mais esse estilo, já que não gosto muito de livros de romance, porém, começo essa resenha dizendo que da mesma forma que em Tarde Demais, seu outro livro, a autora precisa modificar a forma com que os assuntos são abordados. Iremos comentar sobre isso mais adiante.
Merit Voss possui uma família bem disfuncional. Eles vivem em uma antiga igreja que foi transformada em uma casa em que vivem seu pai, sua nova esposa chamada Victória, sua mãe que após um câncer desenvolveu algumas fobias sociais e agora mora no porão da igreja e não sai de casa por nada (e, por sinal, seu nome também é Victória). Seu irmão mais velho Utah também mora na casa, assim como Moby, o caçula e filho do segundo casamento de seu pai, e sua irmã gêmea idêntica, Honor. Merit sofre de uma espécie de complexo de inferioridade com relação à sua irmã, que é sempre a mais bonita, a mais inteligente, a mais legal e popular, enquanto Merit se enxerga como invisível. Como se o cenário já não fosse caótico o suficiente, a casa recebe dois novos moradores: O divertido Luke e o misterioso Segan, namorado de Honor. Como sabemos muito bem, isso por si só se categoriza como um episódio de A Grande Família, mas não faz nem um pouco o estilo de Colleen. Cada membro da família Voss esconde um segredo e possuem seus fantasmas no armário. O ponto convergente de todos os segredos é Merit, que não aguenta conviver com a família fingindo que tudo funciona as mil maravilhas enquanto as coisas são jogadas para debaixo do tapete e resolve expor o segredo de cada um deles.

Ninguém poderia supor nada disso nem mesmo de dentro da nossa casa. Sabemos guardar segredos nessa família. 

Como citei, essa é a minha terceira leitura da autora. Também já havia lido Tarde Demais e É Assim Que Acaba, dois livros que foram verdadeiros soco no estômago tamanha agressividade. A autora sempre apostou em personagens complexos e dramas reais, mas em As Mil Partes do Meu Coração a autora caprichou. Eu nunca li uma história em que todos os personagens fossem tão bem explorados e na narrativa; os segredos dos membros da família Voss são muito bem aproveitados e entrelaçados, que me passou o mesmo sentimento de sufocamento que Merit sent antes de expô-los ao mundo. O drama família é realmente muito bem desenvolvido e você acaba reconhecendo sua família por tabela; obviamente, os segredos não são assim tão densos (talves sejam, vai saber), mas todo mundo tem seus problemas e precisamos encontrar uma forma de resolvê-los e não viver em uma fotografia. Esse pra mim, talvez seja o grande objetivo do livro: Demonstrar que por trás de gramados bem cuidados e cercas brancas, toda família tem seus problemas e desavenças.

Tanta gente sonha em morar em uma casa com uma cerca branca, pensando em ter uma casa grande e confortável. O que as pessoas não sabem é que não existe família perfeita, por mais branca que seja a cerca.

Retomando o que disse lá no início sobre a escolha de temática para os livros, acredito que seja de suma importância que falemos cada vez mais sobre os temas que Colleen aborda. Inclusive, é o papel social e cultural da literatura. No entanto, é necessário muito cuidado com a escolha de palavras e a forma de abordagem. Muitas vezes, uma pessoa que sofre de algum desses problemas pode interpretar seus diálogos como gatilho e aí sim desencadear algo muito pior. A escrita da autora é muito envolvente e imersiva, o que torna muito fácil prestar atenção em seus textos. Ao falar sobre depressão, por exemplo, ao longo das páginas de As Mil Partes do Meu Coração, notei uma certa romantização, o que pode ser extremamente perigoso, principalmente se levarmos em consideração o público alvo da autora. Contudo, torno a frisar que sim, precisamos debater e discutir sobre a cultura do estupro, violência doméstica, depressão, entre outros, porém, é necessário haver um zelo muito maior para a abordagem em filmes, séries e livros.
Voltando a falar da história, o livro flui muito bem e eu o finalizei em apenas um dia. Sua narrativa é muito fácil de se apegar, os personagens carismáticos e é tudo muito bem amarrado. Confesso que num primeiro momento, não estava gostando muito, principalmente pelos famosos clichês adolescentes de obras do gênero que ninguém mais aguenta, mas depois a história se transforma em algo muito mais complexo e denso. Eu amei de paixão os personagens e senti que a história poderia se estender por  mais 500 páginas que não ficaria chato. Luke é a melhor parte, com toda certeza e não quero contar muito sobre a ligação dele com a família pra não estragar a surpresa, mas vocês irão gostar. Realmente, o meu grande problema com a narrativa foi a romantização de certos pontos e também alguns exageros nas temáticas; ficou um pouco aquela sensação de que foi escrito apenas para chocar, soando deslocado e artificial da narrativa. Outra coisa que não gosto muito é que em toda a história da autora (ao menos as que eu li), todos os personagens são muito padronizados e "elitizados". A autora possui muita coragem em abordar temas difíceis, mas utiliza sempre esse mesmo grupo. 

Nem todo erro merece uma consequência. Às vezes a única coisa que ele merece é o perdão. 
As Mil Partes do Meu Coração é uma história mega divertida e importante. Ainda que aborde situações complicadas, é uma narrativa que te segura e é algo agradável, diferente de Tarde Demais, livro que te deixa com gosto amargo na boca durante toda a leitura. Recomendo para todos, no entanto, tomando cuidado com os pontos que destaquei. No mais, é uma leitura muito reflexiva sobre enfrentar os nossos problemas de frente e que não há coisa mais valiosa no mundo do que nos cercarmos das pessoas que nos amam, a nossa família.

Nota: 4,0 / 5,0
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Ainda perdida e ainda tentando achar luz em textos alheios e palavras autorais. Amante de café, literatura, fotografia, cinema, viagens e amor.

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