Boneco de Pano | Resenha

by - agosto 10, 2019

Foto: Sai da Minha Lente
Ei!
Tudo bem?

A vida é uma coisa muito engraçada. Um belo dia eu estava na livraria me endividando com mais livros que provavelmente só irei ler aos 90 anos quando me deparo com um marcador de páginas altamente chamativo em tons de vermelho. O título do livro é "Marionete", do autor Daniel Cole. Rapidamente atraiu a minha atenção e quando cheguei em casa fui pesquisar um pouquinho a respeito da obra e do autor, já que o título era interessante e curioso. Em meio a sinopses, resenhas e críticas, descubro que o livro em questão é continuação de uma outra obra do autor, chamada de Boneco de Pano, que já está na minha lista de leituras por aproximadamente 72 anos. Fiz uma nota mental de que subiria a prioridade do livro para lê-lo o quanto antes. Na semana seguinte, recebo uma mensagem da Cecis me perguntando se gostaria de ler um livro chamado Marionete, enviado para ela como cortesia da editora Arqueiro. Era um sinal divino: Eu precisava ler o quanto antes Boneco de Pano, já que agora possuímos a continuação a nosso dispor. Dito isso, hoje vim para contar um pouquinho para vocês sobre o primeiro livro do autor e a experiência que foi.

Autor(a): Daniel Cole
Editora: Arqueiro
Gênero: Thriller, Suspense
Número de Páginas: 336
Sinopse: O polêmico detetive William Fawkes, conhecido como Wolf, acaba de voltar à ativa depois de meses em tratamento psicológico por conta de uma tentativa de agressão. Ansioso por um caso importante, ele acredita que está diante da grande chance de sua carreira quando Emily Baxter, sua amiga e ex-parceira de trabalho, pede a sua ajuda na investigação de um assassinato. O cadáver é composto por partes do corpo de seis pessoas, costuradas de forma a imitar um boneco de pano. Enquanto Wolf tenta identificar as vítimas, sua ex-mulher, a repórter Andrea Hall, recebe de uma fonte anônima fotografias da cena do crime, além de uma lista com o nome de seis pessoas – e as datas em que o assassino pretende matar cada uma delas para montar o próximo boneco. O último nome na lista é o de Wolf. Agora, para salvar a vida do amigo, Emily precisa lutar contra o tempo para descobrir o que conecta as vítimas antes que o criminoso ataque novamente. Ao mesmo tempo, a sentença de morte com data marcada desperta as memórias mais sombrias de Wolf, e o detetive teme que os assassinatos tenham mais a ver com ele – e com seu passado – do que qualquer um possa imaginar. 

Como estava com saudades de ler um bom suspense. É meu gênero literário favorito, mas confesso que ultimamente todos os títulos soam muito iguais, assim como as motivações dos assassinos e as narrativas. É tudo muito genérico e de pouco impacto; em um mercado saturado, Boneco de Pano se destaca por sua ótima narrativa fora do comum: Um corpo. Seis vítimas. Esse é o cenário em que a polícia descobre o corpo do que seria apelidado como Boneco de Pano. Cada membro costurado como se fosse um boneco de pano pertence a uma pessoa distinta e a polícia não faz a menor ideia da identidade delas. Como se o quebra cabeça já não fosse complexo o suficiente, uma lista é divulgada com nomes de outras seis pessoas cujas partes serão utilizadas pelo assassino para costurar um novo boneco de pano. Dentre os nomes da lista, William Fawkes encontra-se listado. Apelidado como Wolf (uma brincadeira com as iniciais do seu nome), ele é um dos investigadores da polícia responsável por tomar conta do caso do Boneco de Pano. William, além das motivações óbvias, resolve entrar no caso para se redimir após um terrível caso de agressão que o levou a permanecer internado em uma clínica para reabilitação e tratamento psicológico. Desacreditado e querendo provar para todos e a si mesmo que é capaz de encontrar o terrível serial killer (além de querer salvar sua pele), Wolf se envolve na complexa narrativa que o livro se baseia, repleto de mistérios, reviravoltas e mortes sangrentas.

Diz aí: Se você é o Diabo, eu sou o quê?

Wow! Que narrativa, senhoras e senhores. Poucos livros começam a contar sua história com uma carga de adrenalina tão forte e intensa. Os primeiros capítulos já logo de cara são utilizados para introduzirem o contexto geral da história e dos personagens, além de trazerem mortes impactantes e sangrentas. A escrita de Daniel é muito boa e gostei muito do fato de que o autor não perde tempo com informações desnecessárias e longas descrições dos personagens e cenários. O autor vai direto ao ponto e mergulha o leitor nas investigações lideradas por Wolf para descobrir a identidade do assassino, além de relatar a dificuldade da polícia na identificação de quem são as pessoas que formam o macabro boneco, e a corrida contra o relógio a fim de proteger as pessoas listadas para que um banho de sangue seja evitado. O ritmo da narrativa é tão frenético que você mal tem tempo para se acostumar com as situações: Os personagens são apresentados, algo acontece e o cenário construído até então muda. É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo que sua cabeça até fica meio zonza diante da enchurrada de informações passadas por Daniel. Boneco de Pano é, sem dúvidas, um excelente blockbuster: Uma verdadeira história de ação. Curiosidade: Após o término da leitura, fui pesquisar mais algumas informações sobre o livro e descobri que a história foi originalmente pensada para ser o roteiro de uma série. Se explica assim o ritmo eletrizante com que os eventos acontecem.  

Eu me senti muito preso a história, ainda que fosse confusa em alguns pontos. A falha de Daniel, em minha opinião, foi na construção de seus personagens, que muitas vezes são estranhos e pouco carismáticos e se comportam de maneira automática durante a narrativa. A detetive Emily Baxter é uma das responsáveis pelas investigações e durante vários momentos ela se comporta como uma adolescente mimada cuja vontades precisam ser atendidas. Emily, apesar de uma grande amiga de Wolf guarda secretamente uma paixão pelo detetive. A mesma foi um dos pivôs da separação de William com Andrea, uma ambiciosa jornalista que acreditava que os dois mantinham um caso. Os três protagonizam algumas cenas bem hilárias na história, mas confesso que alguns dialógos entre eles - principalmente as das brigas entre Andrea e Emily por conta de Wolf - bem desnecessárias e fora de contexto. A jornalista é uma das personagens que mais gostei e achei particularmente interessante a mesma ter sido escolhida pelo Bonequeiro (o nome dado pela polícia ao serial killer) como mensageira, recebendo inúmeros furos de reportagem e detalhes sórdidos sobre as mortes e as vítimas. A mesma é muito bem utilizada durante a história, além de possuir interesse particular nas investigações, uma vez que uma das vítimas é seu ex marido. Ainda avaliando os demais personagens, alguns outros policiais fazem parte das investigações, mas nenhum em particular se destaca, além do carismático Edwards, que traz uma maturidade para a trama, além de ser o único a pensar com clareza e enumerar os fatos. O detetive começa a obra sem muito destaque, mas achei  interessante seu desenvolvimento ao longo da trama, principalmente ao desempenhar um papel principal para a resolução do mistério. 

Como citei um pouco mais acima, a narrativa começa nas alturas e, aos poucos, vai se estabilizando, mas sem torná-la monótona e chata. Daniel consegue encadear os acontecimentos da história de maneira muito eficaz e geralmente cada capítulo termina com algum outro mistério que nos instiga a continuar lendo. Destaco principalmente aos capítulos em que são apresentados aos eventos que levaram Wolf a ser afastado da polícia e ser internado em uma clínica para tratamento psicológico, tudo se relacionando com um antiga caçada contra um serial killer chamado de Naguib Khalid, conhecido como Cremador. O caso causou grande alvoroço da imprensa na época, devido a brutalidade dos assassinatos: Ao total, foram 27 prostitutas entre 14 e 16 que foram incendiadas. Ao final do julgamento, Naguib foi inocentado e Wolf entra em colapso. Um ano após os eventos, o detetive é obrigado a confrontar novamente seu passado, pois a cada nova peça encaixada no quebra cabeça do caso do Boneco de Pano, mais Wolf se vê envolvido no centro de toda a história que se relaciona diretamente com o caso do Cremador. 

Apesar de uma ótima narrativa, eu não gostei muito da maneira com que o livro é finalizado. Acredito que tenha sido algo exageradamente aberto e acredito que parte disso seja porque  o autor já planejava lançar uma continuação, mas em um primeiro momento, soa bem artificial e de pouco impacto. Eu não gostei muito sobre a revelação da identidade do assassino, assim como a explicação pelo envolvimento de Wolf na trama. Tudo foi abordado com um pouco de pressa e alguns fatos são questionáveis e duvidosos. Como disse, acredito que todas essas questões serão abordadas em Marionete com mais detalhes, até porque existem inúmeras questões que não foram devidamente encerradas em Boneco de Pano. A sensação que tive é que a história se finaliza de maneira incompleta e pensando por esse lado, fico feliz que tenha feito a leitura agora, já com a continuação em mãos. Marionete foi lançado dois anos após a publicação do primeiro volume e acho que ficaria muito ansioso pra saber logo o desfecho dessa história. 

Nenhuma daquelas pessoas fazia ideia do monstro que passava por elas: um lobo em pele de cordeiro.

Em suma, Boneco de Pano traz personagens esquecíveis em uma boa história de suspense. O melhor de tudo, certamente é a escrita de Daniel, que é ágil e sagaz, além do autor saber exatamente como conduzir os leitores durante a história. Ainda que o livro me soe incompleto e, em alguns pontos, previsível, acredito que a história que será contada em Marionete irá complementar as lacunas deixadas, além de trazer um aprofundamento melhor na relação dos personagens já conhecidos. Estou bem ansioso para a leitura, no entanto, espero muito que Emily esteja um pouco mais adulta na história. Ela é bem chata!

Nota: 3,0/5,0

Espero muito que tenham gostado da resenha de hoje, logo logo trarei a resenha de Marionete aqui pra vocês, fiquem ligados.

Até lá.



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2 comentaram

  1. Oi Gabriel.
    Certamente o mercado do suspense está saturado e com obras repetidas. Pena que o mesmo aconteceu com esse livro.
    Uma dica que dou para você como uma leitura assídua do suspense é que você busque livros de gêneros mais híbridos principalmente com o drama. Por algum motivo eles apresentam obras mais bem estruturadas que o suspense por si só.
    Beijos.
    Fantástica Ficção

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  2. Oi, Gabriel. Mesmo não sendo o meu gênero favorito, concordo que o mercado está saturado e faltam histórias que nos surpreendam de verdade. Eu fiquei bem perturbada e ao mesmo tempo intrigada com a premissa de Boneco de Pano, e confesso que fiquei com muita vontade de conhecer a história. Os finais dos livros desse gênero parecem ser um problema que além da saturação, também vem se repetindo com frequência. Faz tempo que não leio um 100% satisfatório, mesmo que eu tenha gostado do livro de forma geral, o final sempre deixa uma sensação insuficiente. Enfim, apesar dos apesares, gostei bastante da sua resenha e fiquei curiosa para conhecer o livro. Espero conseguir dar uma chance a ele em breve, ou quem sabe receber um sinal divino também, rs. Bjs!

    http://abducaoliteraria.com.br/

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