Nova Jaguaruara | Resenha

by - dezembro 08, 2018

Foto: Gabriel Ferrari


Oi! Tudo bem com vocês?

Faz algum tempinho que conversamos aqui no Cores em uma outra resenha a respeito do YouTube e o benefício do uso da internet no nosso dia a dia. O acesso à informação é abundante e hoje é muito fácil descobrir livros e novos conteúdos através da grande rede. Foi através da ferramenta de vídeos do Google que descobri inúmeros livros e autores independentes com histórias grandiosas dignas de todos os holofotes literários. Os mais diversos booktubers preenchem os devaneios de nós leitores, nos dando dicas, fazendo resenhas e comentando sobre aquele livro que você estava super curioso pra ler, porém não tinha certeza se valia ou não a pena comprar. Eles também desempenham um importante papel indicando livros poucos conhecidos, autores novos no mercado editorial e histórias independentes. Foi exatamente assim que conheci o livro “Nova Jaguaruara” do autor brasileiro Mauro Lopes, disponível na Amazon em sua versão digital.





Dica: Caso você seja assinante do Kindle Unlimited, o livro se encontra gratuito na plataforma. É só aproveitar!


“É no medo dos outros onde reside a nossa coragem, filho. É justo aí onde temos a chance de fazer algo.”



Nova Jaguaruara - Mauro Lopes


Título Original: Nova Jaguaruara
Autor (a): Mauro Lopes
Número de páginas: 240
Ano de publicação: 2017
ISBN: B075773MC3
Gênero: Terror, suspense
Sinopse: Um antigo e curioso evento acontece todos os dias em Nova Jaguaruara, uma pequena cidade no interior do Ceará: à meia-noite, as luzes se apagam e a cidade cai na escuridão por exatamente um minuto. Vicente e sua equipe de trabalho chegam à cidade para estudar as condições para a instalação de torres de energia eólica na região e, quem sabe, resolver o estranho problema de queda de energia. O que eles não sabiam, entretanto, é que a cidade esconde uma terrível história relacionada ao desaparecimento de pessoas desde o início do século XX. A única coisa de que são alertados desde o primeiro dia é o fato de não poderem se aproximar de uma igreja abandonada na beira da estrada, um pouco afastada de Nova Jaguaruara. Infelizmente, o aviso não é o suficiente e logo Vicente e sua equipe encontram-se presos nos terríveis mistérios da cidade.

“A história de casa mal-assombrada mais próxima da perfeição que eu já li. - Stephen King.” Essa é a dedicatória do mestre do terror que ilustra a contra capa do clássico “ A Assombração Da Casa da Colina, da escritora Shirley Jackson, obra que serviu de inspiração para a série de grande sucesso da Netflix, A Maldição da Residência Hill. Como vocês bem sabem, nós já conversamos sobre esse livro aqui no cores, e a experiência de ler o livro foi totalmente aquém do esperado. Apesar da história de Nova Jaguaruara não envolver uma casa mal assombrada, certamente King mudaria sua opinião se tivesse em mãos essa história de terror nacional. Essa sim é uma narrativa que beira a perfeição e é capaz de te deixar com com medo.


Na história somos apresentados a Nova Jaguaruara, uma cidadezinha minúscula situada no litoral do Ceará. Seus moradores vivem suas vidas tranquilamente e aparentemente não existe nada de anormal, a não ser por um pequeno detalhe: Todos os dias, exatamente a meia noite, todas as luzes se apagam por 1 minuto. Após esse tempo, as luzes se acendem e a vida segue normalmente. Esse curioso fenômeno aparentemente não possui nenhuma explicação ou motivo para acontecer, porém, os moradores evitam falar sobre esse misterioso evento, pois quando as luzes se apagam e a cidade é consumida pelas trevas, uma pessoa da cidade desaparece sem deixas vestígios ou rastros e nunca mais é vista. E sob esse pacto de silêncio, os moradores da cidade vivem suas vidas regidos por uma única regra de consentimento geral: Ficar o mais longe possível da antiga igreja de Nova Jaguaruara.


“Ela viu fome, miséria e destruição. Sentiu como se nada na vida jamais fosse dar certo. E foi tomada naquele instante pela sensação mais triste e desprezível que uma pessoa poderia sentir. Ela sentiu que estar vivo era um grande azar. E experimentou um sentimento amargo de descrença nas pessoas, descrença na sorte, descrença no futuro.”

Se você em algum momento da vida já teve a oportunidade de conversar com alguma pessoa mais velha que mora no interior e, mais precisamente, em uma cidade pequena, certamente já ouviu alguma história de terror ou lenda urbana. Nova Jaguaruara flerta exatamente com o imaginário das histórias que ouvíamos quando éramos crianças e o fato da história ser nacional e ser ambientada em nosso país torna tudo ainda mais palpável para o leitor, que rapidamente se identifica com a história. O que mais me agradou na narrativa de Nova Jaguaruara foi a escrita competente de Mauro, descrevendo cenas com uma riqueza de detalhes impressionante e sem excessos. Nas primeiras páginas somos apresentados a diversas histórias que aparentemente não possuem nenhuma ligação entre si, porém, conforme a leitura avança, vamos conseguindo enxergar os laços que unem cada um dos personagens, cuja história gira em torno do mistério envolvendo a igreja da cidade: Na tentativa de resolver o problema de energia que assola Nova Jaguaruara, um grupo de engenheiros e geólogos é mandado para estudar o terreno e localizar os melhores pontos para a instalação de equipamentos para a geração de energia eólica. Uma professora do primário que vê sua pacata vida se alterar quando precisa enfrentar seus medos e receios para ajudar um de seus alunos que se encontra com sérios problemas em casa. Um homem com habilidades especiais cujo nascimento levou Nova Jaguaruara para uma época de felicidade e extrema prosperidade capaz de curar as pessoas das mais diversas doenças e enfermidades. Os capítulos do livro estão construídos de forma a intercalar a narrativa entre as três histórias citadas acima e, a medida que a leitura avança e se torna densa, as histórias se entrelaçam e os personagens se conectam, alinhando passado e presente nas mais diversas gerações da cidade.


“As velas da igreja que ainda resistiam cederam por fim. E toda vela ou lamparina da cidade se apagou. Jaguaruara sucumbiu às trevas por um minuto e assim o faria nos dias seguintes. Essa seria a marca e a lembrança de sua soberania.”


Confesso que no início é um pouco difícil em se conectar a história: A primeira parte é utilizada pelo autor para situar o leitor com os primeiros desaparecimentos, os personagens e o misterioso cenário em que Nova Jaguaruara se passa. Alguns ganchos utilizados pelo autor nessa parte são bem fracos e de pouco impacto, mas quando o livro atinge um certo ponto e você já está acostumado com a história, você só consegue parar quando o livro acaba. Eu tive a brilhante ideia de ler de madrugada e finalmente senti o medo que A Assombração da Casa da Colina me prometeu mas não foi capaz de cumprir. Adoro quando pego um livro de maneira despretensiosa e vejo a história que está em minhas mãos se transformar de uma narrativa morna e clichê em um livro envolvente e assustador. Eu fiquei paranoico, escutava barulhos que não existiam e queria dormir com a luz acesa. Ironias da vida, eram por volta das 22 horas quando estava finalizando a leitura e não é que a luz acabou? Nem preciso falar o que aconteceu.


- Esteja na igreja à meia-noite. O mal está na igreja.
- O quer dizer?
- Não há Deus entre aquelas paredes.


Geralmente em tais cidades do interior, seus habitantes são muito religiosos e devotos e isso foi inteligentemente explorado por Mauro, trazendo uma narrativa repleta de referências bíblicas e conceitos de bem e mal, anjo e demônio, céu e inferno. Bonifácio, o homem que é capaz de curar as pessoas desempenha um importante papel na resolução do livro, que possui cenas bem complexas e perturbadoras, principalmente em suas páginas finais. O autor, em minha opinião, soube explorar muito bem os conceitos abordados ao longo da história e criar um clima de apreensão a cada nova página.Nova Jaguaruara é muito competente e de fato traz o medo para os leitores, mas preciso comentar a respeito de dois pontos que me incomodaram durante a leitura e que me impediram de dar 5 estrelas ao livro (mas que de forma alguma retiram o mérito de uma das melhores histórias nacionais que tive a oportunidade de ler). A narrativa possui diversos personagens, com os mais diversos níveis de escolaridade e aspectos culturais: Sertanejos, homens miseráveis, advogados, médicos, policiais e professores que de fato representam a pluralidade de nosso povo que desde sempre foi composto pelas mais diversas pessoas, porém, as falas dos personagens são todas iguais, geralmente cultas e muito bem construídas, sem o uso de dialetos próprios da região. O livro, apesar de bem construído traz uma narrativa um pouco genérica. Tomo como exemplo a leitura que fiz de O Alto da Compadecida do grande mestre Ariano Suassuna que traz um texto cheio de identidade cultural e muito particular. Acredito que se Mauro tivesse adotado essas características em sua narrativa, o resultado seria muito mais interessante. Eu também senti falta de personagens marcantes na história: Com exceção de Bonifácio, cuja história é de longe a parte mais interessante e imersiva do livro, os demais personagens passaram despercebidos por mim e não me senti conectado à eles em nenhum ponto. Os nomes utilizados por Mauro para compor o grupo de estudiosos são genéricos, tais como Maria, Felipe, André, entre outros. Porém, todos os personagens são todos muito iguais e às vezes enquanto lia e algo acontecia a um determinado personagem X, precisava de alguns minutos para me lembrar quem era a pessoa em questão, o que não aconteceu com Bonifácio, cujo carisma e complexidade do personagem foram capazes de me conquistar desde o início.

“Essa dualidade, o bem e o mal, parecem ser intermináveis. Nenhum põe um ponto final no outro. É a essência do mundo e de cada um de nós.”


Não se enganem: o final do livro deixa aquele gosto amargo na boca e vai te deixar refletindo por algumas horas a respeito de tudo que aconteceu. É inacreditável ver a forma como Nova Jaguaruara foi escrita e possuir apenas 240 páginas. Um livro relativamente curto, mas que guarda grandes surpresas com sua narrativa fluída e envolvente e muitas reviravoltas. Definitivamente foi uma das melhores leituras de 2018 e o troféu "surpresa do ano" vai para a história escrita por Mauro Lopes. Infelizmente, o livro foi unicamente publicado em seu formato digital, mas tenho esperanças que um dia chegue às livrarias, certamente irei amar possuir um exemplar em minha estante.



“Naquele dia, depois de quase cinquenta anos de jejum, o chão do cemitério de Jaguaruara comeu carne mais uma vez.”





Nota: 4,5/ 5,0



Compre Nova Jaguaruara: Amazon



Como falei lá no início do texto, sabemos da dificuldade e da crise que o mercado editorial brasileiro está passando e são nesses tempos difíceis que precisamos cada vez mais incentivar a leitura e mostrar que somos fortes. Dito isso, deixo aqui um desafio para vocês: Me indica aqui nos comentários uma história nacional (pode ser um livro super conhecido ou uma história nova e independente). Vamos valorizar nossos autores e ajudá-los no que for possível. Compartilhem essa resenha com um dos seus amigos e façam com que as nossas histórias sejam ouvidas e contadas por todo o mundo.

Convido vocês também a me seguirem no Instagram e no Twitter, pois agora também trago uma versão resumida das resenhas, compartilho e recebo as mais diversas dicas de leituras, além de ser uma forma mais fácil e próxima para debatermos a respeito dos mais diversos assuntos que envolvam livros, filmes e séries. ♥

Tenham um bom final de semana e nos vemos próximo sábado.




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4 comentaram

  1. Oi GabrieL.
    Eu realmente gosto de livros que sejam pequenos, mas que tragam uma grande histórias em seu cerne. Não conhecia a obra em si, mas todas essas prerrogativas me deixam animada para ler.
    Beijos.
    Blog: Fantástica Ficção

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    Respostas
    1. Olá, Jessica. Concordo totalmente com você, acredito que quando um livro é pequeno, o autor precisa saber muito bem como guiar a narrativa sem deixar nada de fora. No caso de Nova Jaguaruara é impressionante o volume de informação em um pouco mais de 200 páginas, mas ao mesmo tempo, Mauoro explica tudo certinho. É bom demais! Obrigado por seu comentário. Grande beijo!

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  2. Oi, Gabriel. Antigamente, quando escutava a palavra "terror" já corria sem nem pensar duas vezes, mas finalmente criei coragem para encarar mais histórias do gênero, principalmente pela influência do King. Eu fiquei muito empolgada com a sua resenha, pode ter certeza que vou dar chance para essa história, mas diferente de você, pretendo ler durante o dia, numa tarde bonita e ensolarada de preferência. Ainda não sou tão corajosa, rs.
    Uma das minhas leituras atuais é Dom Casmurro - finalmente! - e estou amando. Mas a minha recomendação de livro nacional vai para Ordem Vermelha, uma fantasia sensacional escrita pelo Felipe Castilho. Adorei o post, beijos.

    http://abducaoliteraria.com.br

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  3. Olá, Gisele! Hahahahaha, te entendo, eu sou um grande cagão, mas mesmo assim, eu amo histórias de terror. Infelizmente, sempre tive péssimas ideias e pego pra ler ou ver algo do gênero de noite ou madrugada. Como dormir depois? Hahahahah

    Espero que goste da leitura!

    Com relação a Dom Casmurro, é uma excelente obra, não é mesmo? Não conhecia esse livro que me indicou, mas já adicionei aqui na minha lista, muito obrigado pela sua sugestão ♥ Espero que possamos trocar mais indicações.

    Grande beijo!

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