O bullying na literatura

by - março 29, 2019

Foto: Google
Olá, pessoas!

Mais uma edição do chá das seis no ar, puxa uma cadeira e pegue sua xícara, porque hoje o assunto é longo. Enquanto estava arrumando a minha estante, tentei organizar meus livros de forma a agrupar os que possuíam assuntos em comum. Livros policiais, narrativas históricas, distopias, críticas sociais... Todos nós sabemos muito bem que nenhum campo da arte faz melhor que a literatura na hora de ensinar sobre algum tema. Os autores capricham em suas pesquisas e criam histórias únicas que nos fazem refletir por dias (ou, no meu caso, até semanas), sobre o assunto principal que a história se baseia.

Estou dizendo isso porque percebi que tenho muitos livros que retratam as consequências do bullying na vida das pessoas, seja em ambiente de trabalho, escola ou até mesmo em casa. Enxerguei aí então uma oportunidade de falar com vocês a respeito de um tema que muito se debate, mas que ainda causa muitos danos em nossa vida. Além de batermos um papo sobre e as principais formas que o bullying pode se manifestar, vou aproveitar e deixar pra vocês algumas dicas de livros que discutem o tema para enriquecer o nosso debate, combinado? Espero que vocês gostem e lembrem-se: Nos deixem sugestões de temas para trazermos aqui no Chá das Seis. É muito importante que esse quadro seja construído com e para vocês. 

Apesar de ser um tema relativamente novo e que vem ganhando repercussão e espaço na mídia, o bullying sempre existiu mascarado sob a fachada de "é só uma brincadeirinha inocente". Por falta de apoio ou até mesmo conhecimento, as gerações passadas sofriam caladas os abusos por justamente achar ser normal tal comportamento depreciativo e nada saudável. Com o passar dos anos, foi sendo possível desmistificar essa história de que a brincadeira quando possui objetivo de humilhar alguma característica física, social ou comportamental faz mal, mata e causa muitos danos nas vidas das pessoas. 

O que mais vejo em postagens do Facebook e afins, postagens dizendo o quanto nossa geração é chata, que qualquer coisinha vira motivo para problematizar e que nem se pode mais fazer brincadeiras que já vira ofensa. Muitas vezes quem repete esse discurso sequer para pra pensar no tipo de brincadeira que está fazendo com o amiguinho na escola, o colega de trabalho ou o primo de segundo grau. Muitas vezes o que começa apenas como uma violência verbal se transforma em algo físico e brutal. Não me entendam mal, a primeira etapa do abuso já é tão prejudicial quanto a violência física; independente do tipo de abuso que a vítima sofre, as cicatrizes dessa violência serão carregadas para sempre. 

Em 1974, Stephen King publicou seu premiado Carrie, a Estranha (Spoiler: A resenha irá sair amanhã aqui no site). Em uma década em que esse tipo de debate não era nem um pouco comum, King narrou o inferno vivido pela adolescente Carriera e todos o as agressões praticadas por seus colegas de escola justamente por possuir uma educação religiosa rígida e não se comportar como uma típica adolescente. Seu jeito de andar, de falar e de vestir eram alvos de chacota da garotada que a apelidavam com os mais diversos apelidos. Aqui também podemos destacar os abusos vividos pela protagonista também em sua casa, diante da difícil e conturbada relação com sua mãe, uma fanática religiosa. Apesar de ser uma obra de terror e ficção em que Carrie possui poderes telecinéticos, é válido fazer uma correspondência à violência em mundo escolar. A adolescente cansada de sofrer os abusos mentais, físicos e psicológicos, perde o controle de seus poderes e faz uma verdadeira chacina na escola, se vingando de todos que a ofenderam durante todos esses anos. 


Autor(a): Stephen King
Editora: Suma de Letras
Gênero: Terror
Número de Páginas: 200
Sinopse: Carrie é uma adolescente tímida e solitária. Aos 16 anos, é completamente dominada pela mãe, uma fanática religiosa que reprime todas as vontades e descobertas normais aos jovens de sua idade. Para Carrie, tudo é pecado. Viver é enfrentar todo dia o terrível peso da culpa. Para os colegas de escola, e até para os professores, Carrie é uma garota estranha, incapaz de conviver com os outros. Cada vez mais isolada, ela sofre com o sarcasmo e o deboche dos colegas. No entanto, há um segredo por trás de sua aparência frágil: Carrie tem poderes sobrenaturais, é capaz de mover objetos com a mente. No dia de sua formatura, Carrie é surpreendida pelo convite de Tommy para a festa - algo que lhe dá a chance de se enxergar de outra forma pela primeira vez. O ato de crueldade que acontece naquele salão, porém, dá início a uma reviravolta cheia de terror e destruição.

Sei que o próximo livro dessa lista eu já falei inúmeras vezes aqui para vocês, mas não me canso de ressaltar a importância dessa obra. Em Lua de Larvas, da escritora Sally Gardner, o jovem Standish vive em um mundo governado por um regime totalitário e altamente controlador. O jovem que sofre de dislexia e ainda possui heterocromia é diariamente humilhado por professores e alunos por suas dificuldade em ler e aprender os conteúdos passados, facilmente absorvidos pelas demais crianças. Muitas vezes temos a ideia de que somente os outros alunos praticam as agressões contra a vítima, mas a falta de preparo da instituição e do corpo docente também são armas para essa violência. Alguns diálogos da narrativa são realmente bem difíceis de serem lidos e como a história se passa toda a partir da perspectiva do Standish, é possível perceber o quanto essas coisas o chateiam e mexem diretamente com sua autoestima. 


Autor(a): Sally Gardner
Editora: WMF Martins Fontes
Gênero: Drama, distopia
Número de páginas: 291
Sinopse: Standish Treadwell é um jovem disléxico que vê o mundo de maneira diferente da maioria. Graças a essa visão, ele percebe que o mundo lá de fora não tem que ser necessariamente cinzento e opressor. Quando seu melhor amigo, Hector, é de repente levado embora, Standish percebe que cabe a ele, a seu avô e a um pequeno grupo de rebeldes enfrentar e derrotar a opressão permanente das forças da Terra Mãe. 



Talvez o próximo livro que trago para essa lista você já tenha ouvido falar: O ódio que você semeia, da escritora Angie Thomas. O título do livro talvez seja a melhor definição para bullying já criado e nessa leitura temos um choque de realidade a cada página. É uma leitura altamente densa, social e crítica, que aborda não só o bullying, mas o racismo, que infelizmente, andam de mãos juntas. O livro retrata como o mundo em que vivemos encontra-se dividido por intolerâncias sociais e raciais e como tais violências exercem impacto direto na vida da protagonista Starr. O livro, apesar de ser uma história juvenil, retrata de maneira crua e verídica o quão cruel e preconceituosa a sociedade em que vivemos é. Não é uma leitura fácil, mas extremamente necessária para os dias de hoje.



Autor(a): Angie Thomas
Editora: Galera Record
Gênero: Drama
Número de páginas: 378
Sinopse: Uma história juvenil repleta de choques de realidade. Um livro contra o racismo em tempos tão cruéis e extremos. Starr aprendeu com os pais, ainda muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial. Não faça movimentos bruscos. Deixe sempre as mãos à mostra. Só fale quando te perguntarem algo. Seja obediente. Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto. Em luto, indignada com a injustiça tão explícita que presenciou e vivendo em duas realidades tão distintas (durante o dia, estuda numa escola cara, com colegas brancos e muito ricos - no fim da aula, volta para seu bairro, periférico e negro, um gueto dominado pelas gangues e oprimido pela polícia), Starr precisa descobrir a sua voz.


Como disse, o bullying não se categoriza apenas como os abusos vividos na escola ou ambiente de trabalho. Muitas vezes, as pessoas são obrigadas a esconderem quem verdadeiramente são como forma de proteção. Em Boy Erased temos a dolorosa jornada contada pelo autor durante o período que participou de um programa de conversão para "curá-lo" de sua homossexualidade. Percebam que as violências que discutimos lá no início do texto e que começam na escola como brincadeiras se desdobram em graves problemas sociais. Além do racismo, homofobia é uma das maiores causas de morte e nesse livro é retratado em detalhes todos os abusos sofridos pelo protagonista, a relação conturbada com seu pai e as terríveis consequências do programa.


Autor(a): Garrard Conley
Editora: Intrínseca
Gênero: Drama
Número de páginas: 320
Sinopse: Em seu elogiado livro de estreia, Garrard Conley revisita as memórias do doloroso período em que participou de um programa de conversão que prometia “curá-lo” da sua homossexualidade. Garrard ― filho de um pastor da igreja Batista, criado em uma cidadezinha conservadora no sul dos Estados Unidos ― foi convencido pelos próprios pais a apagar uma parte de si. Em uma tentativa desesperada de agradá-los e de não ser expulso do convívio da família, ele quase se destruiu por completo, mas encontrou forças para buscar sua identidade e hoje é ativista contra as terapias de conversão.


Você certamente ouviu falar da história de Hannah Baker, a adolescente que resolve tirar sua vida, mas antes grava diversas fitas explicando todos os motivos que a levaram a se suicidar. A série trazida pela Netflix, adaptação literária de Os 13 Porquês mostra de maneira perfeita o estrago que o bullying pode causar na vida de uma pessoa. Apesar das minhas ressalvas com relação à história, resolvi colocar na lista pois demonstra como o bullying é praticado em ambiente escolar e a falta de preparo dos profissionais para lidar com essa difícil questão. Alguns momentos do livro são realmente muito tristes e verdadeiros e dói ler sobre como Hanna se sente subjulgada perante seus colegas de classe, professores e seus pais. O livro também irá abordar outros temas, como machismo e abuso sexual.


Autor(a): Jay Asher
Editora: Ática
Gênero: Drama
Número de páginas: 255
Sinopse: Ao voltar da escola, Clay Jensen encontra na porta de casa um misterioso pacote com seu nome. Dentro, ele descobre várias fitas cassetes. O garoto ouve as gravações e se dá conta de que elas foram feitas por Hannah Baker - uma colega de classe e antiga paquera -, que cometeu suicídio duas semanas atrás. Nas fitas, Hannah explica que existem treze motivos que a levaram à decisão de se matar. Clay é um desses motivos. Agora ele precisa ouvir tudo até o fim para descobrir como contribuiu para esse trágico acontecimento.


Creio que esse texto esteja ficando demasiadamente longo e acho que vou encerrar por aqui. Apesar de ter citado apenas 5 livros, existem inúmeros títulos que retratam justamente as consequências do bullying em nossa sociedade. Você conhece mais algum? Deixa aqui pra mim nos comentários. É muito importante que cada vez mais o tema seja explorado na literatura, no cinema e no teatro para que possamos, de uma vez por toda, acabar com isso.  O que começa como a brincadeira de escola, culmina em morte, depressão, sofrimento. Seus desdobramentos são inúmeros: Violência, homofobia, racismo, segregação racial. Muitas vezes não compreendemos o peso que nossas palavras possuem e o que pra você é uma brincadeira, para o outro machuca. 


Obrigado, foi um ótimo chá.

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5 comentaram

  1. Olá, tudo bem?

    Eu concordo contigo sobre a importância dos livros em falar de temas importantes e que nos fazem pensar em várias coisas e falar sobre o bullying é sempre importante. Achei ótimas suas dicas de livros, alguns eu já tinha lido ou ouvido falar; outros não.

    Em resumo: que post lindo!

    Beijos,
    Blog Diversamente

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  2. Ainda não tive a oportunidade de ler os livros citados, mas realmente o Bullying nunca foi fácil e sempre foi tabu e agora que se é falado, denunciado e que se mostram as consequencias o pessoal vem falar de "mimimi " .

    Esses livros que você citou parecem ser importantissimos para se entender melhor e ver como é viver uma situação dessas! Amei o post parabéns!

    Beijinhos da Isa do @leportraitdeisa.

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  3. Oie.
    Eu gostei muito dessas dicas embora a maioria eu já tenha lido. Eu te indico o livro O Sol É Para Todos da Harper Lee, que fala sobre o preconceito em suas mais diversas fases.
    São assuntos bem relevantes e acho legal da sua parte trazer essas dicas para nós;
    Beijos.
    Fantástica Ficção

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  4. Oi, tudo bem?

    Nossa, sem palavras para esse post ! Achei extremamente necessário assim como completo e nele tem ótimas dicas sobre o tema. Li um livro bastante tocante que é: Nosso Lugar, da L.S.Alves o qual também posso recomendar . Bullying é algo extremamente grave e que abala a vida de diversas pessoas, então deve sim ser mais exposto e tratado em livro, séries e etc...quem sabe essas mensagens e tantos protagonista fortes conscientizem melhor as pessoas.

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  5. Que post mais incrível e importante! O bullying tem mesmo diversas facetas, todas terríveis, e às vezes o que começa como bullying na verdade é a raíz de algo muito pior, como o racismo e a homofobia que você citou muito bem. Não estou lembrando de nenhum livro diferente agora para indicar, mas gosto muito do tema e adorei as dicas de leitura.

    Beijos,
    Isa
    taglibraryisa.blogspot.com

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