Desafio King: Saco de Ossos

by - abril 20, 2019

Interrupted Dreamer

Olá, meus queridos, tudo bem com vocês?

Espero que sim.

Sei que deixo os textos que formam o Desafio King para o último sábado de cada mês, porém, por conta de alguns outros projetos e outras coisas que irão tomar uma parcela maior do tempo durante a próxima semana, resolvi trazer a resenha hoje para ficarmos em dia com esse delicioso desafio.

Estamos no mês quatro e já temos 4 livros do mestre para a conta: Até agora de todo o desafio, Saco de Ossos foi o livro mais problemático do King até então. Apesar de ser uma história mega original e bem escrita, o autor peca no excesso de descrições e o livro se torna mais extenso do que o necessário, contudo, é uma leitura válida para você que é fã do mestre do terror e quer completar sua coleção. 

Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Gênero: Terror, Suspense
Número de Páginas: 529
Sinopse: Mike Noonan é um romancista de sucesso que vê sua vida subitamente transformada com a morte da esposa, Jo. Quatro anos já se passaram e o sentimento de depressão e angústia é o mesmo. Nem o sono lhe traz alívio. Então voltar à pequena cidade de Sara Laughs parece a única saída. A cidade, no entanto, já não é a mesma. Apesar da aparente tranquilidade de sempre, a comunidade vive atormentada pelo domínio do milionário Max Devore, que não mede esforços para atingir seu grande objetivo: arrancar a neta de três anos da guarda da mãe. Pouco a pouco, Mike se envolve nessa guerra. Pouco a pouco, Mike redescobre a paixão. Mas a luta não será fácil. Além da fúria de Max Devore, Noonan terá de enfrentar forças estranhas e malignas que agora dominam Sara Laughs. Terá de descobrir de onde vêm os pesadelos cada vez mais terríveis que insistem em assombrá-lo. De repente, ele volta a escrever, mas não terá sossego até achar respostas para as dúvidas que o perseguem. Que forças são essas que tomam conta da pequena cidade? O que esperam dele?

Lançado originalmente em 1998, Saco de Ossos possui um dos melhores títulos entre as obras de King. Relançado no Brasil através da editora Suma de Letras, essa é também uma das capas mais bonitas da coleção do autor e que representa muito bem a história do livro. Mike Noonan é um autor de livros de suspense que vê sua vida mudar drasticamente após a morte prematura de sua esposa, Jo. Consumido pelo luto e pela saudade da esposa, Mike sequer consegue escrever uma linha de seu novo romance. Além do bloqueio criativo, o autor é atormentado por diversos pesadelos e visões terríveis que envolvem sua esposa em Sara Laughts, a casa de verão do casal que fica localizada em uma pequena cidade no Maine. Mike resolve então se refugiar na casa para solucionar os mistérios terríveis por trás de seus sonhos e encontrar a inspiração necessária para escrever seu novo romance, mas o que encontra é a cidade totalmente dividida e controlada por um milionário chamado Max Devore que não polpa esforços para conseguir a guarda de sua neta de três anos, Kira. Mike rapidamente se vê envolvido com a história envolvendo a mãe de Kira, a jovem e apaixonante Mattie, e resolve ajudá-la durante a briga judicial, enquanto ainda precisa lidar e entender as estranhas aparições em Sara Laughts que estão relacionadas com terríveis eventos do passado da cidade.

A resposta era sim. Queria prosseguir - soltar-me de minha mulher morta, reabilitar meu coração, andar para a frente. Mas, para fazer isso, eu teria que voltar. Voltar à casa dos troncos. Voltar a Sara Laughs.

É muito comum King trazer escritores e/ou aspirantes para serem os protagonistas de suas obras, sendo Paul Sheldon, de Misery (cuja resenha você pode ler aqui) o mais conhecido de todos. O primeiro problema de Saco de Ossos foi justamente a construção de Mike que não possui o mesmo peso na obra que Paul em Misery. O autor se vê atormentado pela morte da esposa mesmo após longos 4 anos de luto e perdi a conta de quantas vezes Mike fica se lamentando pela perda de Jô. A personagem também não possui carisma e é bem difícil se afeiçoar a ele, coisa que não é muito comum nas obras de King em que geralmente nos apaixonamos pelos protagonistas das histórias logo nas primeiras páginas. Se Mike passava despercebido durante narrativa, o mesmo não posso dizer de Kyra e Mattie Devore. As duas trazem os melhores momentos e passagens do livro, além de serem muio bem representadas em suas essências. Kyra é apaixonante com seu jeitinho meigo e fofo e os diálogos com sua mãe eram realmente cheios de amor e ternura. Ficava ansioso esperando por mais interações entre as duas. Já o vilão da história é simplesmente asqueroso. O milionário de 80 anos já está a beira da morte e cercado de doenças, mas mesmo assim consegue ser uma das piores pessoas nascidas da mente de King. Soberbo até o último suspiro, o velho é uma verdeira (e perigosa) pedra no sapato de Mike.

Você precisa de umas férias de seus pensamentos - disse Mattie. - Aposto que a maioria dos escritores precisam, de tempos em tempos.

Saco de Ossos possui mais de 500 páginas e a trama principal se desenvolve toda em volta da batalha de custódia de Kyra e a briga entre Max e Mattie. Ainda sim, King consegue introduzir alguns elementos de terror na história, principalmente com relação as aparições e pesadelos vividos por Mike. Ainda sim, categorizo a leitura como suspense, uma vez que os elementos de terror que compõem a obra não surgem com tanta frequência e também não são capazes de colocar medo. Por diversos momentos me senti apreensivo e curioso com o desenrolar da história, mas em nenhum momento me senti apavorado ou desconfortável em ler. Mesmo o foco do livro não ser o sobrenatural, ocorrem algumas passagens bem interessantes e super mega escritas, a ponto de se tornar algo extremamente visual. Aos poucos as peças do quebra cabeça vão se encaixando e Mike descobre que as assombrações e eventos que presencia em sua casa estão diretamente ligados com a história da cidade. Mesmo Saco de Ossos não possuir nenhum grande plot twist, gostei muito da forma com que King mescla o suspense e o terror, mesmo que não tenham sido distribuídos em igual medida na história.

Nossos reflexos já são fantasmas, pensei. Acho que teria sido conduzido até lá por meu próprio coração assombrado.

Explorar o tema de casas mal assombradas não é algo relativamente novo no mundo da literatura e do cinema. Recentemente tivemos a maravilhosa série produzida pela Netflix chamada de A Maldição da Residência Hill (resenha aqui)  ainda é a melhor em trazer e explorar essa temática. Em Saco de Ossos, apesar de fazer parte da trama, senti que em alguns momentos esse gancho foi pouco explorado pelo autor, e como um fã do gênero, senti que faltou aprofundar mais nessa temática. O livro também demora muito a acontecer: King traz as mais inúmeras descrições e utiliza digressões para montar a história o que resulta em uma narrativa pouco objetiva em que as primeiras 200 páginas do livro foram utilizadas apenas para apresentar a história e outras coisas sem muita importância; poderiam ser reduzidas para caberem em 50 páginas. Em minha opinião, se o livro fosse um pouco menor, ele seria perfeito, contudo, com o excesso de momentos de baixa emoção, a leitura cai na mesmice e se torna um pouco massante. Por outro lado, King é um mestre da escrita e isso ninguém pode negar: O autor consegue escrever com tanta clareza que você se sente assistindo um filme ou seriado. Sua narrativa é visual e muito eficaz e mesmo nos momentos em que não há nada acontecendo, é um verdadeiro prazer desfrutar de todo o profissionalismo do autor.

- A forma que você falou. O Forasteiro. Aquilo me perturba. Acha que há uma chance de que ele possa voltar?
- Sempre volta - eu disse. - Me arriscando a parecer pomposo, o Forasteiro finalmente vlta para todos nós, não é?

Saco de Ossos é uma leitura linear que não foge muito do seu começo. O livro não possui reviravoltas e grandes momentos, mas ainda sim trazem ótimas lições sobre a vida, amor, luto e recomeços. Lá no final do livro há uma das cenas mais brutais e triste que li nas obras de King e aviso: É de partir o coração. Se no começo King está um pouco perdido e não é muito objetivo, o desfecho da história é certeiro e extremamente na medida. Pode não ser uma grande história do autor e obviamente possui algumas falhas. Das 4 leituras que fiz até o momento para o Desafio King, Saco de Ossos é a que menos gostei, principalmente pelo constante sentimento de monotonia. Como citei acima, os episódios sobrenaturais envolvem diretamente o passado da cidade e seus moradores e senti que King não soube aproveitar a temática de maneira satisfatória. Muito poderia ter sido feito, mas o autor opta por focar na história entre Mattie e Max.

Porque somos todos sacos de ossos. E o Forasteiro... Frank, o Forasteiro quer o que está no saco. 

Nota: 3,5/5,0

Essa foi a resenha de hoje, espero muito que vocês tenham gostado e estejam curtindo tanto quanto eu o Desafio King. Caso queiram indicar um livro em específico para ser lido em maio, é só deixar pra mim nos comentários. Nos vemos próximo sábado e até lá!


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