Flores Para Algernon | Resenha

by - março 09, 2019

Foto: Gabriel Ferrari

Olá, pessoas! Como estão? 

Um tempo atrás eu comentei com vocês aqui no site o quão proveitoso havia sido o meu mês de janeiro, com diversas leituras maravilhosas e livros inesquecíveis. Infelizmente o mesmo não se repetiu para fevereiro e, além de ter lido muito pouco (apenas 4 livros), foram leituras bem fracas, quando as comparo com as do mês passado. Em um mês de leituras mornas e histórias de pouco impacto eis que surge a última leitura do mês que veio para incendiar tudo e me arrancar da monotonia em que me encontrava. Uma obra complexa, perspicaz e altamente emotiva e reflexiva. Estou falando da obra Flores Para Algernon, do escritor Daniel Keyes e trazida pelo Brasil pela editora Aleph. Eu nunca havia lido nada tão triste e tão bonito em toda a minha vida e o livro despertou um mix de sentimentos em mim que ficou até difícil transcrevê-las em uma resenha capaz de transmitir todos os sentimentos que tive ao ler.

Vamos lá?


Autor: Daniel Keyes
Editora: Aleph
Gênero: Ficção científica
Páginas: 284
Sinopse: Uma cirurgia revolucionária promete aumentar o QI do paciente. Charlie Gordon, um homem com deficiência intelectual severa, é selecionado para ser o primeiro humano a passar pelo procedimento. O experimento é um avanço científico sem precedentes, e a inteligência de Charlie aumenta tanto que ultrapassa a dos médicos que o planejaram Entretanto, Charlie passa a ter novas percepções da realidade e começa a refletir sobre suas relações sociais e até o papel de sua existência. Delicado, profundo e comovente, Flores para Algernon é um clássico da literatura norte-americana.


Charlie Gordon é um homem de 32 anos de idade que possui uma grave deficiência intelectual. Segundo os testes realizados seu QI é abaixo de 70 e é justamente por isso que ele foi selecionado por um laboratório para ser o primeiro homem a fazer uma cirurgia revolucionária que seria capaz de aumentar sua inteligência. É importante ressaltar que a cirurgia ainda se encontrava em fases de testes e os médicos não podiam prever os efeitos colaterais caso Charlie aceitasse fazê-la. A única informação concreta que possuíam é que a tal cirurgia havia sido testada em um rato chamado Algernon que após o procedimento apresentou um intenso desenvolvimento intelectual, lógico e motor. Algernon se torna então uma espécie de rato prodígio e, animados pela perspectiva do sucesso em humanos, selecionam Charlie como cobaia. O jovem rapidamente se anima com a ideia e vê aí uma oportunidade de ser mais inteligente e não ficar mais sozinho, pois segundo ele, pessoas inteligentes possuíam diversos amigos. Charlie é um homem extremamente doce, gentil e ingênuo e, apesar de adulto, possui a mentalidade e inocência de uma criança e esse é o primeiro ponto tocante no livro. É emocionante ler as coisas diante da perspectiva dele que enxerga tudo sem maldades e acredita sempre no melhor das pessoas.

Se você é inteligente você pode ter muitos amigos para conversar e você nunca fica solitário, sozinho o tempo todo.

Segundo a sinopse do livro (não estou dando spoilers!!!), a cirurgia de Charlie é um sucesso e logo os primeiros sinais de desenvolvimento começam a ser notados pelos médicos e o protagonista apresenta facilidade em aprender novos assuntos e línguas, além de possuir um exímio raciocínio lógico e motor. Em pouco tempo, Charlie consegue resolver os problemas mais complexos que envolvam física e matemática e sua inteligência já ultrapassa a dos médicos responsáveis por toda a cirurgia. Infelizmente, a medida em que Charlie vai se tornando inteligente, ele começa a questionar diversos aspectos de sua vida. Sua inteligência emocional não cresce de maneira proporcional e o mesmo se torna um homem apático e altamente cético que se torna obcecado pelo conhecimento. Obviamente, quanto mais Charlie aprende, mais se decepciona com o mundo que vive e as pessoas que fazem parte da sua vida. Tarefas simples se tornam verdadeiros discursos existenciais para Charlie que começa a se considerar melhor que as outras pessoas por ser "mais inteligente" e possuir uma ampla ganha de conhecimentos.

Foto: Gabriel Ferrari

O livro é uma verdadeira surra pois levanta debates sobre fé, política, religião, corrupção e filosofia, enquanto Charlie mergulha em memórias e revisita traumas de sua infância e adolescência em meio as novas descobertas que sua inteligência permitiram alcançar. Aqui é apresentado o verdadeiro propósito do livro: É possível medir sua inteligência a partir dos conhecimentos que você possui? Até que ponto a ciência deve e pode intervir no intelecto humano? Como mencionei mais acima, Charlie ainda vive sob os fantasmas de sua infância difícil e do tratamento que recebia de sua mãe, que não aceitava um filho "retardado, preguiçoso e perigoso" em sua família. Ela utiliza exatamente essas expressões e são passagens bem obscuras da obra enquanto sua mãe levava Charlie para diversos médicos na tentativa de reverter esse quadro. Obviamente ler todas essas experiências sob a perspectiva doce, inocente e infantil de Charlie torna o processo ainda mais doloroso e por diversos momentos precisava interromper a leitura por me sentir extremamente mal. Torno a frisar que Flores Para Algernon aborda muitos outros temas e é uma leitura muito poderosa, densa e reflexiva. Eu acabei com meus post-its de tantas frases que marquei.

O que é correto? É irônico que toda a minha inteligência não me ajude a resolver um problema assim.

Em suma, é um livro arrebatador, porém, apesar dessa ótima história, eu me vi numa relação de amor em ódio com Flores Para Algernon: Em alguns momentos a narrativa pode se tornar extremamente chata e massante, eu diria até difícil para ler. O romance é todo escrito de maneira epistolar, ou seja, através da visão do Charlie que escreve relatórios de progresso, vemos como as coisas eram antes da cirurgia, todo o processo de aprendizado após e os efeitos colaterais. Como mencionei, Charlie começa o livro com sérios problemas de aprendizagem e o mesmo se reflete em sua escrita: Os primeiros relatórios de Charlie não possuem qualquer concordância entre as frases, coerência ou pontuação (como a primeira frase que destaquei na resenha pra vocês). Seu vocabulário é bem limitado, além de não saber escrever muitas palavras e as mesmas são escritas da maneira que se fala. Particularmente, achei genial por parte do autor, pois passa ainda mais verdade para a obra. Com o tempo, Charlie vai se desenvolvendo e sua escrita se torna correta e formal, até se transformar em uma narrativa altamente complexa e rebuscada. Nesse ponto aqui não posso deixar de citar o capricho e empenho da Editora Aleph no belíssimo trabalho de tradução e diagramação da obra, que além da capa belíssima, ainda é em capa dura. Eu imagino a dificuldade que tenha sido adaptar essa narrativa para o nosso idioma, mas vocês fizeram um excelente trabalho.

Foto: Gabriel Ferrari

A história, apesar de imersiva e emocionante, consegue ser um tanto quanto monótona em alguns pontos e em certos momentos você é pego por um sentimento de incerteza por justamente não saber para qual caminho o livro irá enveredar. Como já era esperado, o final desse livro é totalmente desesperador e de cortar o coração e não existem palavras no mundo que pudessem me ajudar a passar pra vocês o que senti ao ler as páginas finais. Mais uma vez, a mescla entre diálogos poderosos, uma história densa e a ótima narrativa de Daniel tornam Flores Para Algernon uma leitura excepcional e extremamente necessária. Enquanto visitava algumas passagens do livro que marquei pra fazer trazer a resenha aqui pra vocês, não pude deixar de me emocionar mais uma vez e entrar em um estado de introspecção pessoal. Charlie é um personagem emblemático e muito importante, pois, mesmo que indiretamente, você começa a se identificar com os questionamentos abordados.
Nada nas nossas mentes realmente vai embora. A operação o cobrirá com um véu de educação e cultura, mas emocionalmente ele estava ali assistindo e esperando. 

Flores Para Algernon é um daqueles livros que não é possível um meio termo. Apesar de uma leitura difícil e altamente carregada de sentimentos e reflexões, é aquela obra que você leva no coração e é impossível não se emocionar ou compadecer com os personagens. Com certeza daqui uns anos farei uma releitura da obra sabendo que irei interpretá-lo de uma maneira diferente do que a que fiz hoje e irei conseguir retirar novas lições e ensinamentos. É o tipo de livro que após finalizar, surge aquele sentimento de que nunca mais farei uma leitura como essa. Uma obra singular e única.

Nota: 4,0 / 5,0



Nos vemos na próxima semana!

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4 comentaram

  1. Eu já tô emocionada com a resenha, se ler vou chorar com certeza
    Que tenso hein, que mãe e que história!
    Acho que é ótima para sair de momentos de marasmo mesmo, dá um chacolhão na nossa vida

    osenhordoslivrosblog.wordpress.com

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  2. Oi, Gabriel! Esse foi um dos meus livros favoritos que li ano passado. Li bem no finalzinho do ano e já estou pretendendo reler em breve. Que livro arrebatador! Eu não esperava uma leitura tão intensa e reflexiva assim, principalmente porque mergulhei nela sem saber muita coisa, nem mesmo a premissa. Concordo que em algumas partes a leitura se tornou um tanto monótona, mas refletiu muito a situação do próprio Charlie e também me fez respirar em meio a um turbilhão de emoções, rs. Como você mesmo disse, esse é um livro extremamente triste e bonito, e também o considero essencial. Indico pra todo mundo! rs. Ótima resenha, bjs.

    http://abducaoliteraria.com.br

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Oi,tudo bem ?

    Não conhecia o livro e fiquei maravilhada não somente com a proposta, mas por ele manter uma reflexão necessária e tocar os seus leitores. O livro me pareceu ser bem construído, com uma história emocionante, além de ter quotes incríveis... você soube ressaltar muito bem os pontos altos da obra e expor seu ponto de vista. Com toda certeza está é uma ótima indicação e irei conferir o valor da obra via Amazon.

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